Quase seis meses após a parceria firmada entre a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas) e a varejista global de moda, a Shein, a interiorização da produção no Rio Grande do Norte ainda é tímida e sem perspectivas de avanço. Segundo donos de oficinas do Pró-Sertão, contempladas pela parceria, não há novidades desde a entrega das peças ‘piloto’ para a Companhia.
Conforme o secretário adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sedec/RN), Silvio Torquato, apesar da Coteminas representar a ‘âncora’ da Shein no Brasil, resultados significativos ainda não são observados. No Seridó Potiguar, enquanto isso, um consórcio desponta na produção com a varejista chinesa.
Segundo o titular da Sedec/RN, embora o Estado tenha finalizado seu papel na atração do investimento e como interlocutor, a Coteminas não concretizou a parceria junto às oficinas de costura. Por conta disso, ainda não há resultados expressivos dessa relação para o Rio Grande do Norte, seja por meio de abertura de novos empregos, ou geração de renda.
Ao todo, na primeira etapa de produção, quatros empresas localizadas em Macaíba, Cerro Corá, Lajes e Acari foram contempladas. Na cadeia produtiva, enquanto as unidades são responsáveis por fases como lavagem e tingimento, a Coteminas arca com o trabalho de aprovação e envio das peças.
Até o momento, mesmo que contatos iniciais tenham sido feitos, não ocorreram produções em larga escala. Em resposta sobre a morosidade em avançar na produção no Rio Grande do Norte e o atual cenário de relação junto a Shein, a Coteminas disse que o assunto está suspenso até 2024. Desde agosto deste ano, a empresa também tem sido pauta em razão de atrasos salariais, cortes de benefícios sem aviso prévio e falta de pagamento de direitos trabalhistas a ex-funcionários.
Silvio Torquato esclarece que a Sedec, por sua vez, não tem informações sobre os fatores que podem estar influenciando nas dificuldades para iniciar a produção para a empresa chinesa de e-commerce. No que se refere ao panorama de atrasos salariais pela Coteminas e se isso pode atrapalhar o avanço da varejista global no Estado, ele adverte que tratam-se de questões ligadas à relação entre empresários e que fogem do papel da Secretaria. “Nós nos mantemos vigilantes e, no caso de alguma necessidade do Governo, intervimos”, ressalta.
Para o consultor empresarial Carlos Daniel, que chegou a ser consultado pelo Governo do Estado no início da parceria entre a Coteminas com a Shein, as oficinas do Pró-Sertão apresentam uma boa capacidade instalada. O que falta agora, observa, é a adequação efetiva do modelo de negócio a ser proposto e uma melhora na relação junto aos parceiros.
Se, por um lado, a parceria com a Shein não tem dado retornos, por outro, o titular da pasta destaca que a concentração da produção da Guararapes no Rio Grande do Norte ampliou em 3 mil o número de empregos diretos pela fábrica. Desde o fechamento da unidade em Fortaleza, em janeiro deste ano, o quadro de funcionários passou de 6 para 9 mil pessoas contratadas. Além disso, por meio de oficinas de costura, a empresa gera 4.500 empregos diretos, fora os indiretos.
Com esse potencial, confirma Silvio Torquato, uma parceria da Shein com a fábrica também poderia amadurecer a presença da e-commerce no Estado. Ele reitera, contudo, que trata-se de uma pauta que deve ser tratada entre agentes empresariais. “Isso é uma questão empresarial. O Governo do RN já fez a sua parte que foi trazer a Shein e [estimular] entendimentos aqui para o Rio Grande do Norte”, complementa.
Para 2024, mesmo diante da falta de presença da Coteminas para fomentar a indústria têxtil local, as perspectivas são positivas. No segmento de confecções, pontua Silvio Torquato, estão ocorrendo compras por grandes magazines e os estoques já estão praticamente zerados. O ramo atualmente se destaca no e-commerce e tem desconto de 93% no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Até o momento, a SEDEC não fechou os dados sobre o faturamento das empresas da indústria têxtil.
Deu na Tribuna do Norte