Conhecida como um dos principais cartões postais do Rio Grande do Norte, a cidade de Natal vem sentindo os impactos do desaquecimento na economia turística que, dentre outros pontos, atinge negativamente o setor da hotelaria. Atualmente, mais de dez hotéis estão à venda na capital potiguar, dos quais a maioria estão localizados em Ponta Negra, zona Sul da cidade. É o que aponta o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) do Estado, Abdon Gosson, para quem o problema deve à ausência de infraestrutura em áreas turísticas e de novas opções de lazer na capital do Estado.
De acordo com ele, o cenário de perdas na rede hoteleira não é recente e vem se arrastando ao longo dos últimos. Nos últimos seis anos, por exemplo, estimativas da ABIH apontam que Natal perdeu 1.610 apartamentos, o que corresponde a 3.220 leitos, e deixou de receber 3.200 turistas por dia. A consequência disso foi a perda de R$ 1, 6 milhões por dia que poderiam circular na economia, tendo em vista que o gasto médio diário por pessoa é de R$ 500. Na escala mensal, o prejuízo estimado é de R$ 48 milhões.
Embora reconheça que Natal apresenta uma grande rede hoteleira, Abdon Gosson adverte que essa estrutura poderia ser ainda maior. O que vem sendo observado, contudo, são os riscos que podem ser gerados com a venda dos mais de dez hotéis da capital. A TRIBUNA DO NORTE questionou quais são esses empreendimentos e quantos são precisamente, mas o presidente informou que tratam-se de dados sigilosos. Aliado a isso, assegurou que os empreendimentos são de médio porte, ligados à Associação e que seguem funcionando, mesmo que precariamente.
Na perspectiva do presidente da ABIH, ainda que o desaquecimento econômico seja o fator macro para o problema, ele vem sendo gerado por uma série de outras entraves estruturais. “O turista só vai para um destino onde ele é bem tratado, onde tem segurança e a iluminação e limpeza funcionam. Um lugar onde cada vez que eu volto, tem mais opções de entretenimento e lazer. Tudo isso não vem acontecendo ao longo de vários governos”, destaca Abdon Gosson, para quem a ausência de infraestrutura tem afastado o turista para outras cidades.
Entre os locais que sofrem com a ausência de movimentação, destaca, estão a Via Costeira e Ponta Negra. No caso do primeiro, o presidente aponta que não há uma utilização do espaço, tanto por parte dos natalenses quanto dos turistas, para além do tráfego. Somente na região, há quatro hotéis fechados: Parque da Costeira, Hotel Pirâmide e Porto Mirim e o da BRA que se encontra embargado há 18 anos e foi alvo de reportagens realizadas pela TN.
Segundo apurado em reportagem publicada em 7 de julho, ainda não há uma definição sobre o que será feito com a estrutura, mesmo com a sentença da Justiça Federal pedindo a demolição do 8º andar construído fora do projeto inicial e o licenciamento adequado para concluir o hotel.
Já em relação a Ponta Negra, o ordenamento e a obra de engorda são destacadas como as principais necessidades. “A gente tem em Ponta Negra um calçadão quebrado, o Morro do Careca pedindo para não morrer e não se acabar. Precisamos da engorda. Falta estrutura na praia”, argumenta Abdon Gosson. Ainda, afirma, a segurança precisa ser ampliada nos corredores turísticos para estimular a permanência dos turistas em Natal.
Cidades mais atrativas ganham visitantes
A engorda de Ponta Negra está em fase de aprovação do plano de trabalho pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, conforme já apurado pela TRIBUNA DO NORTE. Somente com essa avaliação, que não tem prazo para ser finalizada, será possível liberar o edital de licitação para a obra. A execução dos serviços, por sua vez, depende do cumprimento de 50 condicionantes estabelecidos pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema/RN) na Licença Prévia (LP).
Enquanto as obras seguem sem prazo e os problemas permanecem, outros destinos ganham destaque nas escolhas dos turistas. Abdon Gosson pontua que atualmente a capital vem perdendo visitantes para cidades consideradas mais atrativos, como é o caso de Pipa e São Miguel do Gostoso. O motivo disso é o desaquecimento crescente do mercado e, consequentemente, a falta de estímulos que permitam a permanência dos visitantes na capital.
Se, por um lado, a imagem da cidade como um espaço atrativo se dilui, por outro, os prejuízos também alcançam os habitantes locais. Para Abdon Gosson, um dos principais problemas observados na queda do setor hoteleiro é o declínio na geração de emprego e renda. “Quanto mais hotéis, mais empregos, mais renda para a economia e mais condições de trabalho as pessoas têm. Quanto menos, pior para o empresário, pior para o colaborador, o pessoal do turismo e péssimo para a economia”, complementa.
Mesmo com os trabalhos de promoção de Natal como destino turístico, seja junto às agências, grandes feiras, operadoras, ou eventos de maior porte, ele enfatiza que o problema só pode ser resolvido com investimentos na infraestrutura e, posteriormente, na chegada de novas atrações. “Antigamente, o turista fazia passeios nos arredores [da cidade] e ainda ficava dois ou três dias para aproveitar Ponta Negra”, aponta. Na visão dele, a capital está aos poucos se transformando em uma ‘cidade dormitório’.
Ele reitera, por outro lado, que alguns avanços podem ser observados, como é o caso da Avenida da Praia de Ponta Negra, alvo de uma obra de requalificação realizada pela Prefeitura de Natal. “Acho que vai se tornar um dos melhores polos gastronômicos do Nordeste, ou quem sabe do Brasil. Isso é ótimo para o turista, que passa a ter dezenas de opções gastronômicas. Antes não tinha e as opções estavam acabando”, diz.
A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a Secretaria Municipal de Turismo de Natal para saber a avaliação da pasta sobre os dados da ABIH e quais iniciativas estão sendo tomadas para levantar o turismo na capital.
A secretária de Turismo de Natal, Ohana Fernandes, afirmou que o Estado teve um aumento de 7% no fluxo de turistas no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do sistema de inteligência turística do RN. “Segundo o relatório do Banco do Nordeste os empresários de setor contrataram 34 milhões de reais junto ao banco no ano passado. Foram 246 contratações de operações de crédito. Isso mostra que o turismo continua sendo uma atividade pujante e fundamental para economia potiguar”, destacou.
Segundo ela, “a prefeitura na gestão do prefeito Álvaro Dias tem trabalhado na melhoria da infraestrutura turística”. Citou os exemplos do Terminal Turístico da Redinha, das Obras de requalificação da praia do Meio e dos Artistas , do enrocamento e engorda da praia de Ponta Negra e da transformação da Avenida Praia de Ponta Negra em um Polo Gastronômico da cidade, após intervenção feita pelo município. Projeto está agora, disse ela, no trecho que vai até a rota do sol. Ela ressaltou ainda que já foi lançado o edital de licitação para o terminal turístico da Pedra do Rosário, juntamente com o projeto do Santuário Nossa Senhora de Fátima na zona Norte. A secretária destacou que a prefeitura também tem trabalhado na divulgação e promoção do destino.
Deu na Tribuna do Norte