Pela primeira vez em três anos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central baixou a taxa básica de juros, que ficou em 13,25% ao ano. A redução de 0,5 ponto percentual vem após sete altas consecutivas, que culminaram no período mais longo no qual a Selic esteve estacionada desde junho de 2019, quando foi mantida em 6,50% por 10 reuniões, ou quase um ano. A taxa não sofria cortes desde agosto de 2020, quando foi reajustada de 2,25% para 2%. Para analistas do mercado, o nível de corte do órgão veio como uma surpresa positiva, pela magnitude da redução da taxa. O comitê indicou que deve seguir no mesmo ritmo de redução, caso haja uma manutenção do cenário positivo de redução inflacionário. Com isso, economistas estimam que a taxa de juros deva terminar o ano a 11,75%.
Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, afirma que o corte de 0,5 ponto percentual foi um pouco mais arrojado que o esperado pelo mercado. “O Banco Central deu a largada no ciclo de corte de juros aqui no Brasil dando um cavalo de pau na expectativa majoritária entre os economistas e iniciou o ciclo com um corte um pouco mais arrojado e provavelmente isso deve repercutir positivamente nos ativos de risco e contribuir para um dia positivo do Ibovespa amanhã”, indica. Ela pontua que cortes futuros podem vir em uma magnitude de 0,75 ponto percentual em algum momento, mas a tendência é que continuem na faixa de 0,50 p.p..
Economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo ressalta que o Comitê sinalizou que em seus próximos movimentos avaliará os desdobramentos da inflação e, se o movimento permanecer favorável, novas quedas de 0,5 p.p. acontecerão nos próximos encontros. “É notório que o cenário prospectivo de inflação está melhor, o que dá mais conforto para o banco central agir. Não somente o IPCA está mais favorável, como também as projeções no boletim Focus vêm retrocedendo nas últimas semanas, ancorando expectativas. Ademais, os IGPs da FGV estão apontando deflação, o que inibe um contágio maior sobre o índice oficial, via indexação dos contratos”, esclarece. Ele compartilha que a projeção de Selic para o fim do ano é de 11,75%, ao considerar que as próximas reuniões deverão trazer reduções de 0,50 p.p.
Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, indica que o corte veio em uma magnitude maior do que a maioria do mercado considerava, que era de 0,25%. “Também chama a atenção o comentário, no comunicado, de que o Banco Central antevê cortes de mesma magnitude, ou seja, define 0,5o ponto como o ritmo apropriado, a ser utilizado para os próximos cortes. Isso foi muito positivo e o mercado deve continuar reagindo bem, pois a Bolsa já vem se sustentando acima de 120 mil pontos há mais de um mês. Embora o mercado já precificasse um pouco disso, o efeito deve contribuir na margem positivamente ainda para as ações. Na economia real, há muita contribuição com custo do dinheiro ficando mais barato e os juros pressionando menos o resultado das empresas”, observa.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, considerou como acertada a decisão, mas pondera que os cortes precisam ser mais intensos. “A decisão foi acertada, uma vez que não compromete o processo de combate à inflação e evita um desaquecimento maior da indústria e da economia. As expectativas de inflação têm passado por sucessivas revisões para baixo e a apreciação da taxa de câmbio, nos últimos meses, também representa mais um elemento positivo para esse cenário de controle da inflação”, avalia.
Jayme Carvalho, economista-chefe da SuperRico, observa que o corte de 0,50% na taxa básica Selic foi menos conservador como de praxe são os movimentos do Banco Central. “Porém, as condições para a volta da queda justificam o início com um passo maior que inicialmente esperado pelo mercado que era de 0,25% de corte. O mais provável agora é que o BC mantenha o ritmo de queda de juros para 0,50% nas próximas reuniões e termine o ano de 2023 com a taxa Selic a 11,75%. O efeito dessa queda para o empresário ainda será baixo, mas ajuda na melhoria do ambiente econômico local. A queda da meta Selic tem efeito direto nos empréstimos de curto prazo, como o cheque especial ou rotativo do cartão de crédito, diminuindo a pressão sobre grande parte da população. Esse alívio nas despesas financeiras traz um folego extra do lado das contas financeiras das famílias que estão no nível mais alto de endividamento da história”, indica.
João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro, destaca que os novos diretores votaram pelo corte mais intenso, como esperado, e foram seguidos pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos, e mais dois diretores. “Nossa visão é que o Copom mantenha esse ritmo de cortes de juros nas próximas reuniões, mas não descartamos que possa intensificá-lo, caso o cenário evolua favoravelmente. Isto é, se houver uma continuidade desse ambiente de menor risco doméstico, com o avanço das pautas econômicas na volta do recesso parlamentar, novas indicações de elevação do rating soberano, com consequente apreciação do câmbio, ou novos recuos das expectativas de inflação e das medidas de inflação mais sensíveis ao ciclo econômico”, destaca.
Co-head de Investimentos da Arton Advisors, Raphael Vieira pontua que o Copom manteve o discurso de atuação da política monetária contracionista e de vigilância dos dados que impactam inflação e atividade na condução da política monetária. “Apesar de ter iniciado o corte em 0,50 em decisão não unânime, o comitê ressaltou que pode rever a magnitude nas próximas reuniões caso o cenário inflacionário se deteriore. O comitê adotou uma linha mais dovish, porém explicando no detalhadamente o porquê da decisão de 0,50 p.p. nesse primeiro corte. O mercado estava um tanto dividido sobre o corte ser de 0,25 p.p. ou 0,50 p.p. com uma probabilidade maior precificada hoje na curva de juros de 0,25 p.p.. Vindo a 0,50 p.p., a curva deve ser reprecificada pelo mercado e as expectativas ajustadas para o tom do comunicado”, considera.
Informações da JP News