Marinha adia afundamento da maior embarcação de guerra do Atlântico

O porta-aviões foi adquirido da Marinha francesa em 2020, por US$ 12 milhões

 

A Marinha do Brasil planejava afundar o porta-aviões São Paulo, diante do avançado grau de degradação do antigo aeródromo. A operação, no entanto, foi adiada. O grupo empresarial Sela, da Arábia Saudita, apresentou uma oferta para a compra do casco da embarcação. A proposta foi feita na segunda-feira 30.

O valor é três vezes maior que o feito pelo estaleiro turco Sök. A companhia chegou a assinar o contrato de aquisição com a Marinha, mas decidiu devolver o porta-aviões, após a Turquia vetar a entrada da embarcação em seu território.

“Na qualidade de procuradores do grupo Sela da Arábia Saudita, manifestamos interesse em comprar o casco da antiga embarcação, assumindo assim todo e qualquer custo operacional com eventuais reparos estruturais e retirada de resíduos tóxicos”, escreveu o advogado Alex Christo Bahov, contratado para representar os sauditas na negociação, em e-mail para a Marinha.

Ele acrescentou que o grupo saudita tem interesse econômico no porta-aviões, com o desmanche das peças, além de o casco representar um ativo para quem o adquirir. “É a maior embarcação de guerra do Atlântico. É um navio grande, de desenho bonito, que tem história. Ele participou de testes nucleares quando ainda era bandeira francesa. Há uma questão de empoderamento também em adquirir algo histórico como o porta-aviões.”

História do porta-aviões

O porta-aviões São Paulo tem 266 metros de comprimento. Seu armamento era composto de três lançadores duplos de mísseis e metralhadoras de grosso calibre. Inutilizado há décadas, o navio passou por um desmanche na França. Na década de 1990, ele chegou a passar por um processo de desamiantação, que retirou 55 toneladas de amianto, produto tóxico. Mesmo assim, o amianto ainda está presente nas paredes do porta-aviões — a substância era usada como isolante térmico e acústico, para reduzir o barulho da decolagem das aeronaves para a tripulação.

 

 

O porta-aviões foi vendido pela Marinha ao estaleiro turco Sök, especializado em desmanche de navios. O veículo deixou o Brasil no dia 4 de agosto do ano passado. No entanto, diante de denúncias sobre a exportação ilegal de amianto, o governo turco revogou autorização para a entrada da embarcação no dia 26 de agosto, quando o navio se aproximava do Estreito de Gilbraltar, em viagem feita com o auxílio de um rebocador.

O Ibama suspendeu a licença de exportação e determinou o retorno do navio ao Brasil. Em águas brasileiras, os rebocadores turcos deixaram o casco do porta-aviões, e a Marinha voltou a assumir o controle da embarcação. O relatório de uma perícia técnica da Marinha realizada na embarcação em 13 de janeiro constatou rasgos no casco, aumento no nível de alagamento, corrosão e risco de afundamento.

Sem empresas no Brasil para realizarem o desmanche verde previsto no contrato e com o imbróglio com a empresa turca, a Marinha planejava o afundamento controlado da embarcação.

Deu na Oeste

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