Uma denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Norte apontou que um advogado potiguar pode ter intermediado contatos entre lideranças do Sindicato do Crime (SDC-RN) e da facção fluminense Comando Vermelho (CV). Na denúncia oferecida à Justiça, relativa à Operação Carteiras, os faccionados do Rio de Janeiro cobravam mais rigor no cometimento de crimes e no controle dos integrantes da facção potiguar. Historicamente, SDC-RN e CV são organizações criminosas parceiras desde a fundação do grupo potiguar, em 2013, e ambas rivais do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Num dos bilhetes interceptados pelo MPRN, a facção Comando Vermelho emite um comunicado para os “irmãos” do SDC-RN, com divergências a respeito da conduta de alguns integrantes em Mossoró, Oeste potiguar. A operação Carteiras prendeu três advogados no começo de julho. Para o MPRN, os três advogados suspeitos, gozando das prerrogativas legais da advocacia, atuam levando e trazendo “catataus” (bilhetes com informações e comunicações criminosas de dentro de presídios), sendo o principal elo entre os faccionados “da tranca” (presos) e os “da rua” (lideranças soltas).
“(sic) A quase um mês fizemos reclamações do que vem acontecendo no estado do RN, na cidade de Mossoró, onde nossos inimigos festejam em quanto nossos irmãos ficam se matando e até mesmo chegando a matar inocente, a pedido da hierarquia maior (alto da cúpula) vinhemos pela última vez pedir que os irmãos da cidade de Natal entre em contato com nossa liderança do Conselho Geral do Brasil e explique onde estar o erro e que ajam de formas certas decretando os mandantes e os demais que vem se matando, não queremos jamais perder uma aliança, não queremos da o gosto aos nossos inimigos, aos irmãos de Natal que tem ideologia vocês estão de parabéns por não aceitar esses tipos de covardia na cidade de vocês. Não chegou ao fim a aliança ainda por casa de vocês, mais nós do Comando Vermelho opinaria em tirar o nome do SDC 1814 dessa cidade aonde só tem covarde que tiram vidas de inocentes e matam os próprios irmãos”, aponta um dos bilhetes repassados e interceptados nas investigações do MPRN.
A reportagem da TN obteve uma das denúncias, referente a uma advogada de Natal, oferecida à Justiça em julho deste ano. Segundo o MP, pelo menos sete advogados já foram denunciados desde 2019, quatro deles em 2022. A operação Carteiras cumpriu seis mandados de prisão preventiva e outros quatro, de busca e apreensão, nas cidades de Natal, Parnamirim, Extremoz e Nísia Floresta. Os mandados foram cumpridos nas residências dos advogados, em um escritório de advocacia e ainda nas penitenciárias estaduais de Alcaçuz e Rogério Coutinho Madruga.
Nas investigações, o MPRN aponta que a advogada promoveu uma série de diálogos entre faccionados em grupos de WhatsApp, com transmissão de mensagens/ordens de lideranças da facção presas, participação no tráfico e até em ordens de mortes de inimigos.
“Considerando todo o caminho investigativo percorrido, evidenciou-se que a denunciada, utilizando-se das prerrogativas constitucionais da advocacia, passou a funcionar como verdadeira “mensageira do crime”, recebendo e transmitindo mensagens/ordens de lideranças custodiadas sobre venda de drogas ilícitas, decretos (ordem de assassinato), dentre outras com conteúdo indiscutivelmente criminoso, garantindo, assim, o regular funcionamento da ORCRIM e a manutenção do poder das lideranças custodiadas, consubstanciando-se em verdadeiros elos de ligação entre os faccionados intra e extramuros, alimentando a engrenagem malfeitora do famigerado SDC”, aponta a denúncia.
Segundo as investigações do MPRN, a advogada chegou a sugerir que ela fosse uma espécie de “coordenadora dos gravatas”, em nome da facção, organizando e cobrando relatórios para os criminosos presos e repassando instruções para outros integrantes da organização, soltos, além de transmitir mensagens e preocupações dos chefes da facção que se encontram custodiados. Em uma conversa num grupo de WhatsApp, ela chegou a reivindicar a função de “corregedora dos presídios” em nome da facção.