ANALISE: “A entrevista de Ciro Gomes”

Por Ney Lopes de Souza

Ciro Gomes, candidato do PDT à presidência da República, foi o entrevistado de ontem, 23, do Jornal Nacional.

Ele falou durante 29min54s dos 40 minutos de entrevista.

O restante do tempo (10min06s) foi ocupado pelas perguntas dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos.

No dia anterior, Bolsonaro usou 24min37e o restante 15min23s utilizados pelos entrevistadores, que, ao contrário da contundência com que indagaram o presidente, foram cordiais com o pedetista.

Diz-se sempre que Ciro seria o Bolsonaro da centro esquerda, pelo seu temperamento também duro.

Na entrevista do JN, ambos mostraram autocontrole.

A mensagem passada por Ciro foi de extrema competência técnica e política, em relação aos problemas nacionais.

As pessoas podem discordar, mas não podem negar essa evidencia.

Candidato pela quarta vez e professor universitário, demonstra uma didática na exposição do que pensa, com respostas concisas para as grandes questões do país.

Com tempo mínimo no horário gratuito, aproveitou o JN para detalhar algumas ideias e anunciar que colocará  na internet a sua TV,  assim acessada: cirogomes.com.br.

Ciro enfrentou a questão que é pacífica no mundo democrático, mas no Brasil abala a estrutura da avenida Paulista, que é a taxação das grandes fortunas.

Explica dizendo que só 58 mil brasileiros têm um patrimônio superior a R$ 21 milhões, o que quer dizer, que cada super rico no Brasil vai ajudar a financiar, com 50 centavos, apenas, de cada R$ 100 de sua fortuna, a sobrevivência digna de 821 brasileiros abaixo da linha de pobreza, ou seja, aqueles domicílios que as pessoas ganham R$ 417 ou menos por cabeça por mês.

Anunciou   programa de renda mínima no Brasil, a partir de uma reforma da previdência.

Mostrou como atingir esse objetivo, que seria através do BPC, Benefício Prestação Continuado, a aposentadoria rural, o seguro desemprego, e todos os programas de transferência, especialmente o novo Bolsa Família (Auxílio Brasil), que se transformariam num direito previdenciário constitucional, ou seja, ninguém mais vai depender de político A político B.

Será um direito dos mais pobres.

Não se pode negar que o discurso de Ciro tem começo, meio e fim.

Valoriza muito a visão técnica dos problemas, o que talvez dificulte a compreensão da sua mensagem, por aqueles eleitores que decidem a eleição.

Refiro-me aos menos escolarizados, os quais aumentam as chances dos candidatos.

Ciro optou por uma estratégia de permanecer totalmente contra Lula e Bolsonaro.

Apostou nesse caminho.

Isso faz com que ele busque cerca de 10% do eleitorado, que são os eleitores que rejeitam ao mesmo tempo o Lula e o Bolsonaro.

Na prática, Ciro tem mágoa insuperável do PT e grande rejeição ao estilo de Bolsonaro.

O problema é saber se Ciro terá ainda tempo para recuperar-se e chegar no segundo turno.

Ele foi competente na entrevista do JN e usou bem o seu tempo.

Fez propostas, mostrou ideias e preparo intelectual para ser presidente.

Entretanto, ficando entre os dois, que polarizam a eleição, tem dificuldades para passar a sua mensagem, realmente de nível elevado e consistente.

No horário gratuito de rádio e TV não haverá tempo para Ciro.

Ele terá apenas alguns segundos de apresentação.

Um obstáculo quase intransponível para quem tanto o que dizer.

Bolsonaro em 2018 teve 8 segundos e ganhou a eleição.

Naturalmente 2022 é outro contexto totalmente diferente.

Mas, tudo é possível.

Seria bom para o país ver Ciro no segundo turno, com Lula ou Bolsonaro.

O povo brasileiro poderia conhece-lo melhor.

 

Dr Ney Lopes de Souza é advogado, professor titular da UFRN e ex-deputado federal

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