Região Metropolitana de Natal tem mais de 135 mil pessoas em extrema pobreza

 

Estudo divulgado na nona edição do Boletim das Desigualdades nas Metrópoles aponta que mais de 135 mil pessoas estão em condição de extrema pobreza na Região Metropolitana de Natal. A pesquisa desenvolvida em parceria estabelecida pelo Observatório das Metrópoles, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL) analisa dados que cobrem o período de 2012 a 2021.

No início da análise, cerca de 86.633 pessoas eram consideradas extremamente pobres na região da capital potiguar. Ainda de acordo com o estudo, Natal foi uma das capitais que registrou maior desigualdade de renda, acompanhada de outras capitais nordestinas como Aracaju, João Pessoa e Salvador. Em valores mensais de 2021, a linha de pobreza é de aproximadamente R$465 per capita e a linha de extrema pobreza é de aproximadamente R$160 per capita.

A pesquisa considerou dados do IBGE e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc). Para o cálculo foi utilizado o coeficiente de Gini, um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. O cálculo mostra que, quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade de rendimento e, quanto mais próximo de 0, mais igual é a região analisada. Em Natal, o cálculo chegou a 0,588 em 2021, o valor anterior era de 0,529.

De acordo com o professor do departamento de demografia e estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ricardo Ojima, um dos fatores que influenciou esse crescimento foi a chegada da pandemia. “Isso [aumento da desigualdade] se deve pelo fato de que houve um ganho da renda média daquela população que está entre os 10% mais ricos, enquanto que os 40% mais pobres tiveram um decrescimento da sua renda nos últimos anos, sobretudo no período da pandemia”, explica. Esse dado diz, basicamente, que as pessoas mais ricas ficaram ainda mais ricas, enquanto as mais pobres tornaram-se ainda mais pobres.

Além disso, ele aponta o aumento do desemprego como um desses fatores. Segundo Ojima, mesmo depois de 2020 houve demora na retomada de empregos influenciada pelo atraso do processo de vacinação, que também influenciou o crescimento das taxas de pobreza no estado. “Se a vacinação tivesse começado mais cedo, a retomada dos empregos poderia ter sido um pouco mais agilizada, uma vez que o setor de serviços e turístico é um importante setor da economia da região”, disse.

O professor ressalta ainda que a interrupção do pagamento do Auxílio Emergencial em 2021 também foi um fator contribuinte no crescimento da pobreza, que andou em conjunto com o desemprego. “Em 2020 o auxílio emergencial contribuiu para o aumento da renda média da população mais pobre. No caso de 2021, por conta dessa interrupção no pagamento do auxílio emergencial, o impacto foi contrário”, disse.

A inflação dos preços da cesta básica foi um ponto destacado como um fator que contribuiu para a diminuição do poder de compra da população. “A inflação aumentou a quantidade de pessoas na linha da pobreza e também aumentou a quantidade de pessoas na linha da extrema pobreza”, destaca Ricardo Ojima.

Ainda de acordo com o boletim, a renda média da população total da região metropolitana de Natal teve ganho quando compara 2014 a 2021, ou seja, passou de R$ 1.335 para R$ 1.609. Apenas Natal e Belém tiveram variações positivas. Para o professor Ricardo Ojima, esse é um ponto que merece destaque, mas não é comemoração. “Isso não é necessariamente um ponto a se comemorar porque boa parte desse ganho, desse rendimento da população em geral foi puxado pelo complemento da renda média dos 10% mais rico, ou seja, colocar esse ganho na média é aparentemente positivo, mas foi desequilibrado na distribuição da população”, ressalta o professor.

Deu no Tribuna do Norte

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