A inflação é atualmente o fantasma da maioria dos países, em consequência da catástrofe da pandemia.
Pela globalização, o fenômeno traz prejuízos para todo o planeta.
Não é uma questão nacional. No Brasil a taxa anual se aproxima de dois dígitos.
No Reino Unido, está em 9,1%, a maior em 40 anos. Nos Estados Unidos, alcança 8,5%, a maior desde 1981 e chama a atenção dos analistas pelo risco de formação de “bolhas”.
Em 2008 começou a “bolha” em razão da especulação imobiliária nos Estados Unidos, causada por um aumento abusivo nos valores dos imóveis.
Ese marco do colapso do sistema financeiro norte-americano, também é conhecido como crise do subprime e foi causada pelo aumento na facilidade nos financiamentos de imóveis no país, marcado por uma intensa desregulamentação do mercado financeiro.
O curioso é que enquanto uma onda de inflação abala as economias do planeta e faz os preços dos alimentos, da gasolina e dos aluguéis dispararem, há um país que ficou de fora desses números assustadores.
Este ano os preços globais dos alimentos japoneses estão em seu ponto mais alto desde 1990.
O Japão registra apenas um aumento dos preços ao consumidor de 0,9% em fevereiro, ante 7,9% nos EUA ou 6,2% na União Europeia.
No Brasil, a inflação de março anualizada foi de 11,3%; no Chile, de 7,8% em fevereiro, a do México, de 7,2% e a da Colômbia, de 8,1%.
Neste contexto, o Japão quer que sua inflação seja mais alta e há anos vem implementando medidas sem sucesso para tentar conseguir isso.
O objetivo de seu banco central é que a inflação fique em torno de 2%, nível considerado saudável.
O aumento dos preços da energia, fertilizantes e culturas básicas como o trigo, devido à guerra da Rússia com a Ucrânia, deixou o país com a maior elevação anual em 30 anos.
Apesar disso, a subida de preços ainda é menor do que a do resto do mundo.
O que torna o Japão diferente é que, após décadas de deflação, seus cidadãos estão extremamente relutantes em consumir a preços mais altos.
Economistas consideram que o lento crescimento econômico do Japão é em grande parte um reflexo de uma taxa de crescimento populacional em declínio e uma taxa de crescimento da força de trabalho de apenas 0,1%”.
A preocupação dos japoneses é com a aposentadoria futura para sobreviverem.
Isso faz com que economizem muito e consumam pouco.
No Brasil o cenário é diferente.
A inflação atinge principalmente os mais pobres.
O país hoje tem reservas de US$ 340 bilhões, o que permite aguentar algum tempo.
O risco é a recessão dos EEUU que gera instabilidade no mercado, aumenta o custo do dinheiro e afeta o crescimento global.
O futuro presidente a ser eleito em outubro precisa estar preparado para enfrentar essa situação.
Não será fácil.
Por isso, a população deve exigir na campanha propostas claras para evitar que o improviso dos eleitos conduza a nação ao precipício.
Dr Ney Lopes de Souza é advogado, professor titular da UFRN e ex-deputado federal