O Brasil é um grande importador de cloreto de potássio da Rússia, com compras de um bilhão e meio de reais por ano do produto, usado na fabricação de fertilizantes e importante para o agronegócio. Como em todos os processos de importação e exportação, são transações em que o banco do comprador se comunica com o banco do vendedor e o pagamento é compensado através do sistema.
É um processo simples, mas que só é possível devido ao Swift, sigla em inglês para a Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias. É como os bancos no mundo todo se comunicam há quase cinco décadas. Engrenagem discreta do sistema financeiro internacional, o Swift é tão importante que um banimento é considerado uma das piores sanções econômicas aplicadas a um país.
Importante a ponto de alguns países, como o Reino Unido e, principalmente, a Ucrânia, terem defendido na semana passada que a Rússia devia ser expulsa para fazer o presidente russo, Vladimir Putin, recuar. E importante a ponto de tanto os Estados Unidos como a União Europeia terem achado que é uma punição forte demais até para ele. São mais de onze mil instituições financeiras de duzentos países conectadas e usando o Swift para enviar e receber dados padronizados de transferências de valores e ordens de compra e venda de ativos.
Se um país é excluído do Swift, é financeiramente isolado do mundo. Foi o que aconteceu com o Irã entre 2012 e 2016 e, mais recentemente, em 2019. Sem o SWIFT, iranianos no exterior não podiam enviar dinheiro para as famílias e as empresas iranianas não podiam vender para clientes estrangeiros não teriam como receber. O efeito inevitável é o empobrecimento do país. ou pelo menos a seca de novos recursos. Daí a expulsão ser uma ameaça tão poderosa.
Mas no caso da Rússia o Swift também tem muito a perder: trezentas instituições financeiras do país estão conectadas, sendo a segunda maior participação no sistema, depois dos Estados Unidos. Desconectar as finanças russas do Swift afetaria os países que exportam para o país ou compram seus produtos, com efeitos no comércio mundial. E também seria um estímulo para a Rússia buscar, possivelmente junto com a China, um sistema de pagamentos alternativo. Daí que o consórcio de bancos que gere o Swift prefere a neutralidade, até porque nos últimos anos a economia da Rússia passou a depender menos do exterior para funcionar.