A derrota da liberdade

Por Renato Cunha Lima
Seja qual for o vencedor da guerra na Ucrânia, o derrotado será inevitavelmente a liberdade.
O ex-senador americano e ex-governador da Califórnia, Hiram Johnson (1855-1945), tem uma frase que alerta para as versões em um conflito: “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”.
Impressionante a quantidade de narrativas e versões na primeira grande guerra com repercussão nas redes socais, acrescendo o péssimo jornalismo militante presente nos veículos de comunicação no mundo.
Nas redes sociais, de uma hora para outra, todos viraram especialistas em geopolítica, deixando de lado a pandemia.
No Brasil, nessa época no ano, era para as redes sociais estarem falando de BBB, mas não, quando saiu a notícia que o Tiago Abravanel apertou um botão, desistindo de sua participação no “reality”, teve gente que já espalhou que o Wladimir Putin soltou uma bomba atômica.
Essa geração BBB não viveu a guerra fria, não sabe o quanto a guerra fria influenciou na nossa cultura, nas músicas, no cinema e com nosso olhar pejorativo com relação aos russos e chineses, ainda muito presentes.
Entretanto, naquela época, fazia sentido admirar líderes como Ronald Reagan e Margaret Thatcher e hoje, você consegue admirar algum líder do ocidente?
A propaganda midiática segue querendo mostrar que os russos estão errados, que Wladimir Putin é um crápula, o que de fato não resta dúvida, mas no maniqueísmo cultural, o que temos do lado de cá, quem são os líderes ocidentais, eles são dignos de nossa admiração?  Será que existe a dualidade de mocinho e vilão?
Antes de chegar em Emmanuel Macron, Boris Johnson e Joe Biden, vamos para o Canadá.  Olha o que vem fazendo o Justin Trudeau com seu povo, a repressão, a perseguição sem nenhuma voz de crítica internacional.
O ocidente hoje é liderado por “globalistas” autoritários, déspotas da maldita ditadura do politicamente “correto”.  Qualquer país ou pessoa que fuja da agenda “globalista” é rapidamente criticado, perseguido e ameaçado.
Na prática, a Europa vem em plena e total decadência cultural, com a perda substancial de valores que foram fundamentais na construção das respectivas nações.
A mesma coisa nos Estados Unidos, que atravessa crises internas profundas, ainda mais depois da eleição tumultuada de Joe Biden, ele que é um dos maiores responsáveis por essa guerra na Ucrânia. Como bem disse o ex-presidente Trump em pronunciamento recente.
Não existe nem a garantia que o ocidente defende realmente a soberania territorial dos países, tudo é muito relativo e casuístico.
O Brasil precisa ficar de olho, na França o engomadinho do Emmanuel Macron, rei da hipocrisia, vira e mexe fala em  internacionalizar a Amazônia, desrespeitando a soberania brasileira tal como qualquer ditador.
Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, com a alegação falsa da existência de armas químicas, o ocidente se calou e apoiou, assim como apoiou os 20 anos de guerra e ocupação americana no Afeganistão.
O ocidente novamente “passou pano” quando o ex-presidente Barack Obama financiou e forneceu armas para os grupos rebeldes na Síria na tentativa de derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad,  apoiado pela Rússia, em uma das mais sangrentas e bárbaras guerras civis da história recente.
O ocidente também mostra que suas amarras bilaterais e seus interesses falam mais alto nas situações de crise, incluindo interesses corruptos e financeiros.
O desgrenhado Boris Johnson, por exemplo, pouco lembra a altivez e a coragem de Thatcher e Churchill e o Reino Unido parece, a cada dia, ser um puxadinho dos Estados Unidos na política internacional, mesmo depois do Brexit, que resultou na saída do país da União Europeia.
Na Alemanha, no início dos anos dois mil, o  corrupto ex-primeiro-ministro e esquerdista Gerhard Schröder decidiu pela construção do gasoduto Nord Stream, deixando o país mais rico da Europa refém do gás russo.
Hoje o Gerhard Schröder ganha milhões de euros como presidente de estatais de gás russos e seus sucessores na Alemanha nada fizeram para mudar a dependência do Wladimir Putin.
A Ângela Merkel, pelo contrário, aumentou o investimento no gás russo e o novo primeiro-ministro, Olaf Scholz, estava pronto para inaugurar o bilionário Nordeste Stream 2, quando ocorreu a invasão russa na Ucrânia
O terrorismo de tantos atentados bárbaros no ocidente é fruto da insanidade dos Estados Unidos e da Rússia e de seus respectivos aliados, logo, cada vez mais fica claro que não existe esse clichê de mocinho e bandido.
Durante a história foram várias as disputas territoriais por áreas de interesses econômicos e políticos que não se resumem ao leste europeu e oriente médio. Do outro lado do mundo, a mesma coisa, a China até hoje não engole a independência da ilha de Taiwan, que tem apoio americano e ocidental.
O mundo segue para um novo paradigma geopolítico,  a guerra da Ucrânia é apenas um ponto de inflexão para algo que já batia nas nossas portas, um novo mundo, uma realidade terrível de ficar ou correr e mesmo assim o bicho comer.
Definitivamente, não há escapatória, ficaremos entre a ditadura progressista e “globalista” do Ocidente, com seus ditadores “do bem” e a ditadura socialista e supremacista da Rússia e China, com seus ditadores “do mal”.
— O problema do Brasil é sair da frigideira para cair no fogo!
Diferente da escolha que nosso pais precisou fazer em outros momentos graves  na história, a exemplo da segunda guerra, onde facilmente escolhemos ficar contra o nazismo, agora, qualquer que seja o lado, será um lado ruim.
Lembrando que fazemos negócios com todos eles, com os americanos, europeus e chineses e com a Rússia exportamos muito e importamos grande parte dos fertilizantes para o nosso bem sucedido agronegócio.
Por fim, melhor o Brasil seguir sua tradição de defender sempre a paz, as causas humanitárias, sempre com muita cautela para não trazer para si problemas além do que já vamos enfrentar com qualquer um dos lados, ambos agressores  da democracia e da liberdade, apesar de suas narrativas tentarem nos vender o contrário.
Renato Cunha Lima é administrador de empresas, empresário e escritor

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