A situação de Paulo Guedes é insustentável. Em julho, durante evento para debater a reforma do Imposto de Renda e dividendos, o ministro da Economia defendeu que se retirasse do projeto a regra que tributaria recursos de brasileiros em paraísos fiscais. Na ocasião, alegou que a discussão complicaria o debate sobre o texto.
“Ah, ‘porque tem que pegar as offshores’ e não sei quê. Começou a complicar? Ou tira ou simplifica. Tira. Estamos seguindo essa regra”, disse Guedes.
Relator do projeto, o deputado Celso Sabino, que migrou do PSDB para o PSL, chegou a recolocar o dispositivo, alegando que a taxação de recursos em offshores compensaria “com folga” a redução de impostos.
Segundo o Banco Central, até o fim de 2019, mais de 60 mil pessoas físicas residentes no Brasil mantinham no exterior US$ 192,6 bilhões (mais de R$ 1 trilhão), em ativos declarados.
Depois de uma reunião com Guedes, Sabino acabou retirando finalmente o artigo, que previa cobrança mesmo se o dinheiro não fosse repatriado e deveria compor a declaração de ajuste anual do Imposto de Renda.
Segundo o texto, até o rendimento resultante de variação cambial deveria ser tributado por ser considerado ganho de capital.
Documentos vazados por veículos do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICJI) mostram que Guedes, sua mulher e a filha possuem uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal do Caribe.
Em 2015, a offshore tinha US$ 9,5 milhões. Durante sua gestão, a variação cambial permitiu um ganho de aproximadamente R$ 14 milhões.