De volta para o povo: Teatro Sandoval Wanderley é entregue após requalificação

O novo projeto do Teatro Sandoval Wanderley, no Alecrim, foi pensado para tornar a casa mais eficiente, sustentável, funcional, e econômica | Foto: Magnus Nascimento

 

O “teatrinho do povo” está de volta. Após 15 anos de portas fechadas, o Teatro Sandoval Wanderley foi reapresentado novo em folha à cidade em uma cerimônia realizada na última segunda-feira (30) à tarde pela Prefeitura de Natal. O histórico palco do Alecrim, com 62 anos de história, passou por um longo processo desde o fechamento até os projetos que levaram à sua restauração. Além da estrutura requalificada, a casa também contará com administração do Sesc, através de uma concessão que deverá potencializar o investimento público, e garantir um espaço de qualidade para o segmento cultural da capital.

O novo projeto do TSW foi pensado para tornar a casa mais eficiente, sustentável, funcional, e econômica. O tradicional formato de arena foi mantido, com o tipo de palco que pode ser adaptado para diferentes espetáculos, mas agora com equipamentos modernos, e a maior novidade da caixa cênica atual: uma cobertura retrátil que possibilita a visão do céu claro ou noturno para a plateia. Há ainda uma sala de ensaios, e um café que será, futuramente, aberto ao público.

A restauração do teatro recebeu um investimento público de aproximadamente seis milhões de reais. Com a requalificação física concluída, o próximo passo é o processo de transferência de gestão para o Sesc-RN. Um comitê será formado para discutir os termos do repasse e garantir um gestão eficiente e transparente para a classe artística local. “Teremos cerca de 90 dias para esses trâmites, e a programação do TSW começará pra valer no início de 2025”, afirma Danielle Mafra, secretária de cultura de Natal.

A gestora municipal ressalta que a reabertura do TSW foi um projeto construído a muitas mãos, sendo a parceria com o Sistema S um dos pontos altos desse processo. “O Sesc demonstrou interesse em administrar essa casa de cultura tradicional da cidade, e eles cuidam de 121 teatros ao redor do Brasil, ou seja, possuem um grande conhecimento técnico do assunto, o que será uma grande vantagem pra nós”, afirma.

O produtor cultural Flávio Milfont, atual diretor do TSW, declara que a expectativa de retomar um equipamento cultural tão importante é alta, não só para a cidade mas também para o bairro. “O comércio do Alecrim nunca para, mas culturalmente o bairro estava apagado. A volta do Sandoval vai revitaliza-lo nesse sentido, além de formar novas plateias”, diz.

O diretor ressalta que vai dar suporte e ajudar a gerenciar as diversas ações que o Sesc-RN fará na casa. “O Sesc terá 20 anos para desenvolver suas ações no teatro, e entre elas está o lançamento de editais para a seleção de artistas e grupos, projetos educacionais envolvendo dança, teatro e circo, além de uma galeria com exposições de artes visuais contando a história do teatro e do bairro, entre outras possibilidades”, lista Flávio Milfont.

O prefeito Álvaro Dias lembrou que logo no começo de sua gestão, um dos primeiros apelos que recebeu da classe artística foi a recuperação e conservação do Teatro Sandoval Wanderley. “Muita gente disse na época que não conseguiríamos concretizar, que seria difícil. E foi mesmo. Por isso é uma emoção tão grande para mim poder acabar minha gestão entregando uma obra tão importante para a classe artística e a cultura popular de Natal”, declarou.

Álvaro ressaltou o impacto não apenas cultural, mas também social e econômico que a volta do Sandoval Wanderley terá sobre o Alecrim. “O teatro fomenta o movimento, traz mais pessoas para o bairro, para consumir, passear, coloca o Alecrim novamente em sua agenda de lazer, então o reflexo disso no comércio será notório. É também um grande projeto de inclusão cultural”, diz, ressaltando que considera a modernização do TSW uma das grandes realizações pessoais de sua gestão.

Marcelo Queiroz, presidente do sistema Fecomércio, enfatizou que a reabertura do TSW após 15 anos de ausência, é um momento de grande importância para a cultura da capital potiguar – e também para o Sistema S em Natal. “O Sesc é uma das instituições que mais investem em cultura no estado, e temos uma expertise considerável em gestão de teatros, e isso será ótimo para todas as partes”, diz. Marcelo ressaltou que ainda será investido 1 milhão de reais para reequipar o teatro com o que ainda está faltando, principalmente na parte de mobiliário. “Em 2025 o velho Sandoval voltará tinindo para a cena cultural potiguar”, completa.

Palco de formação
O Teatro Sandoval Wanderley é o segundo palco mais antigo de Natal, depois do Alberto Maranhão, na Ribeira. A construção de linhas simples, na Avenida Presidente Bandeira, começou a ser erguida no final dos anos 50, e inaugurada em 1962. Desde o começo ele assumiu o papel de ser um espaço de acesso à cultura para a população mais humilde da cidade, daí a alcunha carinhosa de “teatrinho do povo”. O TSW sempre teve um caráter de formação de plateia – e formou muitas ao longo dos anos.

O ‘Teatro Municipal’ só recebeu o nome atual em 1973, uma homenagem ao ator assuense Sandoval Carlos Wanderley, um dos nomes mais importantes da cena teatral potiguar. A casa recebeu ao longo dos anos projetos como Pixinguinha, Retratos Sonoros, shows nacionais e locais, espetáculos e peças variadas. Artistas como Tetê Espíndola, Miúcha, Fausto Nilo e Zé Celso Martinez, Borghettinho e Jongo da Serrinha já passaram pelo seu palco.

O TSW viveu seu auge entre os anos 70 e 80, mas logo depois foi entrando em decadência. Foi fechado em 2009 devido às péssimas condições estruturais. Havia problemas na estrutura física, nos sistemas elétrico e hidráulico, ausência de saída de emergência e falta de acessibilidade.

Em 2017 chegou-se a cogitar a derrubada do teatro para a construção de um centro comercial através de uma parceria com a iniciativa privada. Em outubro de 2022, a prefeitura assinou uma ordem de serviço e prometeu uma recuperação total. O projeto arquitetônico foi doado à gestão municipal pela arquiteta Débora Mendes.

O projeto foi elaborado entre as Secretarias de Cultura (Secult-Funcarte), Planejamento (Sempla), Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e Mobilidade Urbana (STTU), por meio de um Comitê Técnico de Acompanhamento dos Projetos.

 

Deu na Tribuna do Norte

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