O Ministério da Saúde promove, neste sábado (30/4), “Dia D” de vacinação contra gripe e sarampo em todo o país. O público-alvo da campanha inclui 77,9 milhões de brasileiros entre crianças de 6 meses a menores de 5 anos, pessoas a partir de 60 anos e profissionais da saúde.
O Dia D marca o início da segunda fase da imunização contra sarampo e gripe. A partir de segunda-feira (2/5), as crianças passam a compor o público-alvo da campanha para as duas doenças. Não é necessário intervalo para receber as duas vacinas.
“Ao todo, o governo federal comprou mais de 80 milhões de doses do imunizante contra a influenza e irá distribuir mais de 20 milhões de doses contra o sarampo para os estados e o Distrito Federal”, informa a pasta, em nota.
Dentro do público-alvo prioritário, estão 12,9 milhões de crianças. Para se proteger do sarampo, é necessária a inoculação com duas doses da tríplice viral, que imuniza também contra caxumba e rubéola.
Risco de surto
O sarampo volta a representar risco com a queda da cobertura vacinal no país. Informações retiradas pelo Metrópoles do Datasus, sistema de dados do Ministério da Saúde, apontam 71,19% da população-alvo imunizada em 2020. Em 2021, houve redução para 61,33%.
Nas regiões Norte e Nordeste, a cobertura média registrada em 2021 chegou a 50,13% e 55,9%, respectivamente. Os índices são muito menores que o indicado por especialistas para eliminar o risco da doença.
Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, alerta que a taxa ideal é de 95%.
“Tínhamos eliminado o sarampo em 2016, recebemos o certificado de erradicação. Dois anos com baixa cobertura foram suficientes para voltar a ter surto e virarmos uma região endêmica para a doença”, relembra.
Depois de atingir 88% de vacinados em 2015, o país enfrentou quedas em 2016 (86%) e 2017 (79%). Em 2018, foi feita uma campanha massiva que começou a aumentar novamente os índices, que chegaram a 85%.
Antes da pandemia, em 2019, a cobertura foi de 87%. A queda durante a emergência sanitária é definida pela especialista como “multicausal”. “Uma diminuição da percepção de risco, pais podem achar que a doença não é mais importante e pensam ‘por que vou estar colocando minha criança em risco se a doença não existe mais?’ e caem em fake news.”
O horário de funcionamento limitado dos postos também pode contribuir, assim como filas e falta de vacinas. Carla aponta a importância de aliar a estratégia com as escolas, notificando os pais e levando os imunizantes para o ambiente escolar.
“[A campanha] não pode ser pontual, deve ser feita durante todo o ano, não só em um mês. O Brasil é considerado modelo porque trata a vacina como prioridade o tempo todo. Temos que resgatar a importância da vacinação na sociedade brasileira”, destaca.
Momento de alerta
A epidemiologista recorda que um infectado por sarampo pode contaminar outros 18. O momento de flexibilização das medidas restritivas acende o alerta.
“Estamos vivendo um momento de retorno das crianças a berçários e escolas. É uma doença respiratória, vai ter risco de disseminação”, explica.
Carla relembra que, na década de 1970, o sarampo causava a morte de muitas crianças. “É uma das enfermidades que mais têm complicações na infância. Pode ocasionar complicações neurológicas, respiratórias, cegueira, até mesmo levar ao óbito.”
“Existe um mito de que o sarampo contamina pessoas subnutridas, com piores condições financeiras. É uma doença democrática, que pega em todas as classes sociais, tivemos uma crise recente em um parque da Disney”, diz.
A especialista explica que, em nome da responsabilidade social, é importante que todos os elegíveis se vacinem para proteger, de forma indireta, as crianças com saúde mais delicada ou que não podem se imunizar.
Metrópoles