A reunião que só existe no Brasil

Foto: Reprodução

Há encontros e desencontros, e há reuniões que só existem na cabeça dos jornalistas brasileiros. A suposta conversa entre Lula e Donald Trump na Malásia parece pertencer à segunda categoria, onde só um dos convidados sabe que haverá o bate-papo…

Enquanto a imprensa nacional escreve como se o aperto de mãos fosse iminente, o lado americano faz o que faz de melhor: silêncio. Nenhuma confirmação da Casa Branca, nenhum assessor de Trump acenando com a cabeça, nada. Do lado de lá, o assunto nem chega a ser pauta. Do lado de cá, manchetes, colunas e análises profundas sobre o que Lula vai dizer, o que Trump vai responder e até o que o garçom vai servir.

O problema é que talvez o garçom nem exista.

Lula parece determinado a posar para a foto e pouco importa se o outro não apareceu. Há uma ânsia de projeção internacional, uma necessidade de provar relevância global que lembra o ator que corre pro tapete vermelho mesmo sem ter filme em cartaz. “Vou conversar com Trump”, diz o presidente. Mas, até agora, só ele. Trump não confirmou, não negou, não ligou. Provavelmente nem pensou.

E, convenhamos, a chance de um encontro amistoso é pequena. Lula voltou a atacar publicamente o trumpismo depois da reunião que houve entre Mauro Vieira e Marco Rubio, e Trump é do tipo que guarda rancor em cofres. Um republicano que calcula sempre as repercussões eleitorais não vai tirar selfie com o ícone da esquerda latino-americana, ainda mais no momento em que ameaça um conflito com a Venezuela e acusa o presidente da Colômbia de terrorista e narcotraficante.

Mas isso não impede o entusiasmo tropical. No noticiário brasileiro, o “talvez” virou “confirmado”, e o “em discussão” virou “agenda oficial”. Tudo em nome de um teatro diplomático onde o protagonista quer o flash e a plateia finge acreditar.

Talvez, no fim, ocorra outra conversinha nos corredores da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), na Malásia, onde Lula e sua claque, depois da química, partam para a astronomia e exaltem mais o personagem que os resultados, tratando o episódio, caso ocorra, com mais espetacularização que a passagem do cometa 3IAtlas pelo nosso sistema solar.

Renato Cunha Lima

Deixe um comentário

Rolar para cima