Foto: Rafaela Araújo/Folhapress
Aliados do presidente Lula (PT) temem que a aliança que partidos do centrão costuram em torno de uma candidatura de direita para 2026 prejudique a pauta do governo até o fim do mandato.
O medo é que, unidos em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), parlamentares do grupo se juntem ao bolsonarismo e travem a agenda do Executivo, em especial a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.
Nesta semana, as cúpulas do Progressistas (PP) e do União Brasil anunciaram o rompimento com o governo petista. As legendas determinaram que “detentores de mandato” deixem seus cargos na Esplanada até o próximo dia 30, sob risco de expulsão. O movimento ocorreu em meio ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal).
Governistas reconhecem que a saída desses dois partidos pode dificultar aprovação de projetos, já que o governo reduziria sua base oficial para 259 deputados —apenas dois a mais do que a metade.
Uma amostra dos efeitos do desembarque foi vista no Senado, quando senadores do PP e do União Brasil votaram contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) que cria novas regras para os precatórios. A proposta, que permite ao governo um gasto extra de R$ 12,4 bilhões em 2026, foi aprovada com o número mínimo de votos necessários.
Além disso, integrantes do governo temem que o avanço da articulação pela anistia aos condenados do 8 de Janeiro atropele a pauta, já que o debate impossibilita o andamento de outras matérias no plenário da Câmara.
Há também uma avaliação entre aliados do presidente de que os partidos de centro poderão atuar contra a agenda do governo, justamente para evitar que o petista possa ter ganhos eleitorais com essas medidas, principalmente no caso da isenção do Imposto de Renda.
Auxiliares de Lula apontam que esse rompimento poderia servir de matéria-prima para um discurso de combate aos privilégios. A estratégia seria mostrar que, em vez de aprovar isenção do IR para milhões de brasileiros, os apoiadores de Tarcísio priorizam a anistia para envolvidos em atos antidemocráticos, que culminaram na depredação das sedes dos três Poderes em Brasília.
A ideia seria reforçar que os bolsonaristas mantém seus interesses políticos acima dos nacionais, a exemplo do apoio manifesto às sanções econômicas impostas pelo governo Donald Trump ao Brasil.
No Congresso, articuladores do governo já admitem, sob reservas, que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deve sucumbir à pressão para incluir a anistia na pauta. O esforço, agora, será para convencê-lo a levar o projeto do IR a voto antes da anistia, sob o argumento de que a aprovação de uma medida popular será importante para a imagem da Câmara e do próprio Motta.
Deu na Folha de S.Paulo