As revelações de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no TSE, não podem ser tratadas como mais uma espuma no mar revolto da política brasileira. Elas não pertencem apenas à direita, nem devem ser confinadas aos discursos inflamados de bolsonaristas ressentidos. O que está em jogo é maior: o próprio Supremo Tribunal Federal, o equilíbrio das instituições e a confiança da sociedade em sua Justiça…
O relatório sobre o grupo de WhatsApp dos empresários bolsonaristas é a peça mais incômoda desse quebra-cabeça. Não pelo que expõe do empresariado em si, mas pelo que revela sobre o funcionamento interno da engrenagem judicial. Se a narrativa de Tagliaferro se sustenta, estamos diante da possibilidade de que o Tribunal Superior Eleitoral, sob a batuta de Alexandre de Moraes, tenha manipulado decisões em série. E não qualquer decisão, mas justamente aquelas capazes de inclinar a balança das eleições de 2022.
É aqui que o caso transcende ideologias e paixões partidárias. Não se trata de defender Bolsonaro ou condenar Lula, mas de perguntar se o árbitro jogou limpo. Uma eleição é mais do que a vitória de um lado ou a derrota de outro: é o pacto silencioso que legitima o poder. Se esse pacto foi adulterado nos bastidores, então não falamos mais de disputa democrática, mas de uma coreografia previamente ensaiada.
O Brasil, que já conheceu golpes de farda e de baioneta, agora precisa encarar uma suspeita mais sutil: a de que a toga tenha assumido para si o papel de condutora da História. O que chama atenção nas revelações não é apenas o relato, mas a profusão e a riqueza de detalhes e provas, como áudios de autoridades, mensagens, IPs de computadores.
E a pergunta que não se cala, apesar dos silêncios oficiais, é inevitável: o que houve no TSE seria não apenas uma tentativa, mas um golpe, um atentado à democracia? É crucial que haja investigação. Mas quem vai investigar? Uma coisa é certa, não é algo para o Brasil jogar para debaixo do tapete, ou sendo mais enfático, do tapetão supremo.
Opinião de Renato Cunha Lima Filho