Foto: Fábio Vieira/Estadão
A menos de uma semana do dia anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, os exportadores já não têm mais tempo de fazer seus embarques antes da data, 1º de agosto. Especialistas em comércio exterior e empresários do setor de trading ouvidos pelo Estadão afirmam que as exportações brasileiras levam em média pouco mais de 20 dias para chegar aos EUA.
Os produtos são taxados quando apresentados nas alfândegas com um formulário de importação com detalhes sobre sua origem, similar à declaração alfandegária para a entrada de pessoas físicas nos EUA. A única forma de itens que ainda não deixaram o Brasil escaparem da cobrança nessa semana seria por meio de transporte aéreo, utilizado apenas para exportações de alto valor agregado — de tecnologia, artigos de luxo ou metais preciosos —, de menor volume ou nos casos de vendas de aeronaves, em que o próprio meio de transporte é vendido.
No entanto, no primeiro semestre deste ano, foram por via aérea para os Estados Unidos apenas 12,2% das exportações brasileiras, o equivalente a US$ 2,4 bilhões do total de US$ 20 bilhões vendidos. A grande maioria das vendas trafegou por transporte marítimo, contabilizando US$ 17,3 bilhões, ou 86,6% do total, segundo a Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil).
Os pontos de saída principais do Brasil são os portos de:
- Santos/SP (33,6% das exportações para os EUA no primeiro semestre)
- Itaguaí/RJ (9%)
- Rio de Janeiro/RJ (7,8%)
- Vitória/ES (7,6%)
- São Francisco do Sul/SC (4,4%)
Deles saem produtos como minérios, aço, petróleo, calçados e sucos. Apenas na sexta posição aparece o Aeroporto de Guarulhos.
O tempo de transporte das exportações brasileiras por via naval varia bastante, entre 15 e 35 dias, dependendo dos portos de origem e de chegada. Mas, como atualmente a maior parte das mercadorias para os EUA vai para a Costa Leste, eles levam, em média, de 20 a 25 dias de viagem, segundo o professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) José Luiz Pimenta.
“Com o anúncio do tarifaço, várias empresas com mercadorias a serem vendidas estão segurando as exportações, por que, uma vez entrada em vigor a tarifa, imediatamente, se passa a pagar a taxa no momento de internalização do produto”, diz. “Aquilo que já está em águas e vai chegar antes do dia 1º segue, mas o que seria embarcado esses dias não deve chegar a tempo, por conta do prazo logístico e a rota. Já estamos no período de risco para esses embarques.”
Não há certeza se os produtos brasileiros começarão a serem taxados no início de agosto ou se as negociações do governo brasileiro podem fazer as tarifas baixarem, serem adiadas ou eliminadas. Mas as empresas, tanto do lado dos exportadores brasileiros quanto dos importadores americanos, não querem correr o risco de que as mercadorias entrem nos EUA com a taxa de 50% em vigor.
Produtos como o aço, que com ferro é o segundo item mais vendido na pauta exportadora para os EUA, costumam ser levados para o centro-norte do país, como a cidade de Detroit, polo automotivo americano. Dessa forma, entram no território americano, principalmente pelo porto de Nova York. Já produtos agrícolas, como o suco de laranja, vão principalmente para a Flórida, no porto de Miami.
O empresário Carlos Campos Jr, CEO e cofundador da empresas de importações e exportações Target Trading, em atividade há 28 anos, estima em um período médio de trânsito de 18 a 25 dias dos produtos brasileiros para os principais portos de destino americano na Costa Leste, que são Nova York, Miami, Savannah, na Georgia, e Houston, no Texas, que recebe os navios por meio de um canal vindo do Golfo do México.
Já produtos voltados para o mercado consumidor próximo da Costa Oeste americana chegam principalmente em Los Angeles, e o período de trânsito costuma ficar entre 25 e 30 dias, eventualmente levando até 35 dias.
“Temos cargas já embarcadas em trânsito. Dependendo de quando foi o embarque, elas podem chegar antes de as tarifas entrarem em vigor”, afirma Campos. Para as que chegarem depois, a solução deve ser torcer para um adiamento das tarifas ou recorrer a armazéns alfandegados.
Deu no Estadão