Projeção do PIB do RN desacelera, mas agro sinaliza para recuperação

Projeção positiva do RN mais destacada no relatório reside no setor da agropecuária, que deve crescer 0,9% este ano após retração de 1,6% no ano passado| Foto: Alex Régis

O Rio Grande do Norte enfrenta em 2025 um cenário de desaceleração econômica, após um ciclo de forte expansão no ano anterior. De acordo com projeção da Resenha Regional do Banco do Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) potiguar deve crescer apenas 1,8% este ano, uma queda acentuada em relação aos 6,2% registrados em 2024. A queda é puxada, sobretudo, pelo desempenho negativo da indústria, especialmente na fabricação de coque, produtos derivados de petróleo e biocombustíveis, que recuou 30,8% no primeiro bimestre.

A indústria, que havia registrado alta de 28,1% em 2024, agora lidera as quedas nacionais, com retração acumulada de -19,7%, segundo a Produção Industrial Mensal (PIM-IBGE). O presidente da Federação das Indústrias do RN (FIERN), Roberto Serquiz, avalia que as estimativas estão de acordo com o contexto atual. “As variações projetadas para 2024 e 2025 nos parecem condizentes com aquilo que observamos em termos de conjuntura local”, afirmou.

Ele destaca que os números mais recentes da indústria petrolífera potiguar — com retração de -21,18% no primeiro trimestre — ajudam a explicar a desaceleração, junto a fatores nacionais como o aumento da taxa Selic, do dólar e das incertezas fiscais. Serquiz ainda acrescenta elementos locais como agravantes. “A manutenção do ICMS em 18% durante o ano de 2024 e o aumento da alíquota modal para 20% em 2025 também impactam diretamente os estados, somando-se à dificuldade no licenciamento ambiental de novos poços maduros”, argumenta.

A retração da indústria potiguar contrasta com o desempenho de estados vizinhos. Piauí, Paraíba e Bahia, por exemplo, projetam alta industrial de 4,5%, 4,5% e 4%, respectivamente. O PIB industrial do RN deve fechar o ano em -0,6%, após atingir 8,4% em 2024. Já o setor de serviços deve crescer 1,9%, abaixo dos 6,1% do ano passado, embora em linha com a média do Nordeste e do Brasil (1,7%). O desempenho segue limitado pela alta dos juros e queda no consumo das famílias, segundo o relatório.

Roberto Serquiz ressalta que a riqueza dos setores econômicos dos estados é medida pelo PIB através do IBGE e pontua que, atualmente, o valor disponível mais recente é de 2022, quando o índice potiguar alcançou a média de R$ 93 bilhões, colocando-se como 5º melhor do Nordeste, acompanhado do PIB Per Capita, onde o estado é o 2º colocado do Nordeste com média de R$ 28.409,00. “A resenha regional do Banco do Brasil, por sua vez, trabalha com projeções que podem ser alteradas à medida que os dados consolidados sejam publicados”, frisou o presidente da Fiern.

Alta moderada no agro


A única projeção positiva mais destacada no relatório para o estado vem da agropecuária. Após retração de 1,6% em 2024, o setor deve crescer 0,9% este ano. Apesar de modesto, o avanço é considerado estratégico por lideranças do setor e se insere em um contexto de ampliação da área plantada, que cresceu 29,1% no estado — uma das maiores variações proporcionais do país.

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (FAERN), José Vieira, a retomada do agro é significativa. “Embora o ritmo de expansão ainda seja modesto, o resultado representa uma inflexão importante, especialmente diante do desempenho desigual de outros setores econômicos do estado”, analisa o presidente.

Na visão de Vieira, o agronegócio se consolidou como um dos poucos vetores de estabilidade da economia estadual neste ano, ainda que em uma posição discreta no agregado regional. “A importância desse desempenho vai além dos números absolutos: ele sinaliza um ambiente de maior confiança no campo e reforça a relevância da agropecuária como eixo de sustentação econômica, especialmente em estados onde o setor vem recuperando terreno gradualmente”, afirma.

Ainda segundo ele, a melhoria das condições climáticas e a reorganização estratégica da produção explicam o otimismo e essa melhora, ainda que limitada, pode gerar externalidades positivas na cadeia de serviços e da agroindústria nos anos seguintes. “A tendência observada no RN, portanto, é estratégica para o planejamento de políticas públicas e investimentos privados voltados à expansão sustentável da produção agrícola local”, complementa.

Governo do RN nutre boas expectativas

Apesar das projeções conservadoras para 2025, o governo estadual avalia que o cenário pode ser revertido ao longo do ano e a economia cresça com mais intensidade. O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico (SEDEC), Sílvio Torquato, reconhece o impacto da queda no setor de petróleo, mas acredita em uma recuperação. “A perda do setor de petróleo será compensada pelo próprio segmento, porque é algo sazonal e se deveu à produção do coque. É possível que isso tudo faça com que normalize e a projeção melhore no decorrer do ano. Acreditamos que teremos essa recuperação”, conclui.

Além disso, aposta em setores estratégicos e novos empreendimentos para reverter a desaceleração destacando avanços em diferentes áreas. “Nós estamos avançando em diversas áreas como a mineração. Temos investimentos de R$ 1,5 bilhão em Currais Novos, de uma empresa que está investindo em ouro. A cotação do ouro está animando os produtores”, disse.

O secretário também menciona o crescimento na extração de mármore e granito na região de Parelhas e Equador, com exportações voltadas para a China. No setor agropecuário, Torquato celebra o crescimento da área plantada e a produção de cana-de-açúcar. “Chegamos a quase 4 milhões de toneladas, por exemplo, e pretendemos aumentar essa área plantada.”

Outro destaque é a cadeia da suinocultura, com a instalação do primeiro frigorífico de abate de suínos do estado, em Jucurutu. “O Sebrae já cadastrou mais de 300 produtores para fornecer suínos para esse frigorífico. Isso significa que vamos formar uma cadeia produtiva de suinocultura”, afirma. A indústria de transformação também mostra força com empresas que distribuem produtos nacionalmente e com a consolidação do setor de confecção. “Temos a maior da América Latina, que é a Guararapes. Foram 23 milhões de peças em 2023 e, em 2024, foram 42 milhões”, acrescenta.

Deu na Tribuna do Norte

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