OPINIÃO: Trump e Lula – a foto, o jogo e o cheque

Lula conseguiu a foto que queria. Trump, o movimento, colocando o brasileiro exatamente onde desejava. E, como em todo tabuleiro que ele comanda, não há gesto gratuito, só cálculo.

O encontro entre os dois na Malásia foi vendido como reaproximação diplomática, mas soou mais como uma manobra geopolítica com endereço certo. Trump não atravessou meio mundo por cortesia. O que ele quis foi criar expectativa, acenar com a possibilidade de acordos tarifários e deixar Lula sonhando, prisioneiro da própria expectativa…

A lógica é simples: segurar o Brasil pela esperança. Enquanto Lula alimenta o sonho de uma negociação comercial, precisará se afastar da retórica de apoio a Maduro e Petro. Trump sabe que nenhum discurso anti-imperialista resiste a uma planilha de exportações, e bastou falar em “bons acordos” para deixar o governo em modo de cautela, silenciando até os improvisos verbais de Lula.

“usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também” Lula 

O alvo real não era o aço, nem a soja. Era a política externa lulista, essa mistura de nostalgia ideológica e pragmatismo de conveniência. Trump quer o Brasil fora do eixo bolivariano e percebeu que pode conseguir isso sem confronto, apenas com a sedução do comércio.

E nada disso é de graça. A redução de tarifas, se vier, virá carregada de condições. Trump deve cobrar reciprocidade: menos alinhamento com a China, menos condescendência com ditaduras regionais e mais previsibilidade no campo diplomático. Ele venderá caro qualquer gesto de boa vontade e o fará com a mesma frieza com que mede o valor de uma torre em seu tabuleiro.

Enquanto Lula fala em amizade, Trump fala em estratégia. Enquanto o Brasil tenta parecer independente, Washington dita o ritmo. E o tempo trabalha para os Estados Unidos. Quanto mais o governo brasileiro se agarra à esperança de um acordo, mais se vê preso à narrativa americana.

No meio disso tudo, as sanções continuam. Alexandre de Moraes e outros seguem e seguirão afetados pela Lei Magnitsky. Trump não pretende aliviar. E Lula, ao dizer que não interfere no Judiciário, acaba reforçando o argumento que o deixa sem saída: se nada pode fazer, nada tem a oferecer.

E quando a fumaça das fotos se dissipar, ficará claro quem realmente ditou as regras da partida. Trump sairá da Malásia com o tabuleiro inteiro sob controle.

No fim, Lula levará a foto, Trump levou o jogo, e o cheque em dólares e o xeque-mate, como sempre, já estava simbolizado no aperto de mão.

Por Renato Cunha Lima 

Deixe um comentário

Rolar para cima