KEBEC NOGUEIRA/METRÓPOLES
A Polícia Federal (PF) encontrou no porta-luvas de um dos carros do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anotações manuscritas que fazem referência à delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Os papéis, em folhas brancas, foram apreendidos durante diligências em 17 de julho. Apesar disso, não foram incluídos no inquérito por coação – no qual Bolsonaro já foi indiciado – por não se enquadrarem no escopo da investigação. O Metrópoles apurou com investigadores que os registros podem ter sido feitos pelo ex-presidente ao longo do interrogatório do ex-braço direito em junho, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo investigadores, o material apresenta uma espécie de “linha do tempo” a partir da colaboração premiada de Cid. O contexto exato não foi identificado, mas os rabiscos sugerem apontamentos relacionados a possíveis estratégias de defesa.
Em uma das anotações, Bolsonaro escreveu: “Não existia grupos, sim indivíduos (…) considerando – 2 ou 3 reuniões. Defesa + sítio + prisão – várias autoridades. Previa: comissão eleitoral nova eleição”.
Em outro trecho, anotou: “Recebi o $ do Braga Netto e repassei p/ o major de Oliveira – pelo volume, menos de 100 mil. Pressão p/PR assinar ‘um decreto’ – defesa ou sítio, mas nada vai acontecer”.
Entre as anotações, consta ainda a expressão “Min Fux” e, logo abaixo, frases como: “Estava com a filha em Itatiba/SP”; “Preocupação em não parar o Brasil”; “Das 8, fiquei 4 semanas fora da Presidência”.
Em outra parte, Bolsonaro escreveu: “Nem cogitação houve. Decreto de golpe??? Golpe não é legali//, constituição, golpe é conspiração” (sic). Mais adiante, há a marcação da data “29/nov” — riscada — seguida da frase: “Plano de fuga – do GSI caso a Presidência fosse sitiada”.
De acordo com investigadores, os rabiscos parecem reunir observações sobre pontos destacados por Cid em sua delação. Durante o próprio interrogatório, Bolsonaro também fazia anotações em papéis.
Deu no Metrópoles