EUA lança “ataques” contra governos de esquerda na América Latina

Christopher Furlong/Getty Images

 

Após o governo dos Estados Unidos criticar a condenação do ex-presidente Álvaro Uribe, o atual mandatário da Colômbia, Gustavo Petro, denunciou suposto ataque contra o sistema judicial do país.


Ataques dos EUA

  • No início de junho, Trump anunciou tarifa de 50% contra o Brasil e alegou que a medida tinha ligação com a atuação da Justiça brasileira.
  • Já na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro voltou a ser acusado pelos EUA de chefiar um cartel de drogas. Em declarações oficiais, o governo norte-americano disse que o regime chavista não vai durar para sempre.
  • Depois da avanço do julgamento de Álvaro Uribe, o governo dos EUA saiu em defesa do ex-presidente da Colômbia e alegou que este é inocente. Ele é julgado por corrupção passiva e fraude eleitoral.

O recente episódio se somou a outros posicionamentos e decisões da administração Donald Trump, que voltou os olhos recentemente para países da América Latina comandado por governos de esquerda.

Julgamento de ex-presidente na Colômbia

O governo dos EUA não reagiu bem ao avanço do processo judicial contra o ex-presidente Álvaro Uribe, que comandou a Colômbia entre 2002 e 2010. No início da semana, o político conservador foi declarado culpado por suborno, em um processo que o investiga por acusações de fraude eleitoral e corrupção passiva.

Segundo a Justiça da Colômbia, Uribe subornou paramilitares para que eles mudassem depoimentos em casos que o ligam a grupos armados, criados na década de 1980 para combater guerrilhas de esquerda no EUA lança “ataques” contra governos de esquerda na América Latina.

Logo após a decisão se tornar pública, o chefe da diplomacia do governo Donald Trump saiu em defesa do ex-presidente colombiano. Em um comunicado, Marco Rubio disse que o único crime cometido por Uribe foi “lutar e defender incansavelmente sua pátria”. Na declaração, a autoridade norte-americana ainda apontou uma possível “instrumentalização do judiciário” da Colômbia, sem apontar provas.

O posicionamento, com peso diplomático, foi visto pelo pelo atual presidente da Colômbia como uma tentativa de “interferência na soberania nacional” do país.

Em janeiro, EUA e Colômbia já haviam vivido problemas durante a ofensiva de Trump contra imigrantes ilegais no país. Na época, o presidente norte-americano impôs taxa de 25% sobre produtos colombianos, após o governo da Colômbia se recusar a aceitar deportações de seus cidadãos algemados e acorrentados em voos militares.

Petro reagiu e impôs a mesma taxa contra produtos dos EUA. Mas depois decidiu negociar e aceitou os termos norte-americanos. Com isso, a taxa contra os produtos colombianos baixou para a menor delas anunciada durante o tarifaço de Trump, em abril deste ano: 10%.

 

Caso brasileiro

Desde o início de junho, o Brasil enfrenta a possibilidade de ter suas exportações para os EUA taxadas em 50%, a menos que um acordo aconteça nos próximos dias.

No caso brasileiro, analistas políticos são unânimes ao dizer que a tarifa de Trump possui um plano de fundo único.

“A situação do Brasil é muito particular, única no mundo inteiro, uma vez que imbui assuntos internos e políticos do país, que os Estados Unidos tentam buscam uma ingerência, na visão do governo brasileiro. É bastante particular. Obviamente, isso é fruto de uma grande pressão que vem do deputado federal Eduardo Bolsonaro, mas também de pressões de big techs norte-americanas, que enxergam no Judiciário brasileiro um grande risco reputacional”, explica o cientista político e analista de política internacional Vito Villar.

A relação entre a exorbitante tarifa contra os produtos brasileiros e as decisões do Judiciário brasileiro não é um segredo. Ela foi revelada pelo próprio Trump na carta que enviou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciando a medida.

No documento, Trump voltou a sair em defesa Jair Bolsonaro, apontado como o líder de uma organização criminosa que tentou realizar um golpe de Estado no Brasil, em 2022.

Além de cobrar que o julgamento do ex-presidente seja suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o líder norte-americano afirmou que a taxa era consequência de ordens da Justiça brasileira que atingiram plataformas de mídia social dos EUA — como a série de ordens emitidas pelo ministro Alexandre de Moraes, que chegou até mesmo a bloquear a rede social X no Brasil após o descumprimento de medidas.

Até o momento, o governo brasileiro não deu sinais de que pode aceitar a interferência de Trump no Judiciário brasileiro, e busca diálogo a nível diplomático e comercial com os EUA antes que a tarifa entre em vigor, no próximo dia 1º de agosto.

Negociações estas que são criticadas por parlamentares brasileiros ligados ao ex-presidente, como o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL). Desde fevereiro, o filho de Bolsonaro está nos EUA em busca de retaliações contra autoridades brasileiras.

Apesar do possível impacto negativo na economia brasileira, o parlamentar acredita que Trump só recuará caso o governo brasileiro aceite a interferência norte-americana no Judiciário do país, que beneficiaria diretamente seu pai.

 

Ataques após acordos com Maduro

Na relação de morde e assopra que Trump tem mantido com a Venezuela desde o início do seu segundo mandato, o atual momento é de pressão contra o governo de Nicolás Maduro, classificado por Washington como “chefe de cartel”.

O governo do herdeiro político de Hugo Chávez não é reconhecido pelos EUA antes mesmo do segundo mandato de Trump, após a falta de transparência nas últimas eleições do país. Por isso, Marco Rubio, em comunicado emitido nesta semana, afirmou que Maduro não é o presidente legítimo do país.

Em outra declaração oficial, a diplomacia dos EUA acusou o governo venezuelano de ser um “regime criminoso” que não deve durar para sempre. As manifestações públicas, após meses de relativa tranquilidade entre Washington e Caracas, aconteceram depois da líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, se reunir com autoridades norte-americanas.

As declarações contra Maduro também coincidem com novos acordos firmados entre EUA e Venezuela, e o revezamento entre ataques e acenos positivos ao governo chavista. Entre eles a troca de prisioneiros norte-americanos e venezuelanos, e o sinal verde para a Chevron voltar a operar o petróleo produzido no país caribenho.

 

Deu no Metrópoles

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