Foto: Ricardo Stuckert
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabe que o Centrão não apoiará sua candidatura a novo mandato, em 2026, mas trabalha com um cenário no qual pretende conquistar “frações” de partidos. Lula quer que o vice da chapa seja novamente Geraldo Alckmin (PSB), a não ser que tenha de ceder a vaga para uma composição política de última hora.
As alianças para 2026 e os principais palanques estaduais foram discutidos nesta quarta-feira, 23, em almoço oferecido por Lula ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), com a presença do próprio Alckmin e dos ministros Márcio França (Empreendedorismo) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), no Palácio da Alvorada.
Dono de estilo discreto, Alckmin ganhou protagonismo, nos últimos dias, ao coordenar o comitê interministerial que busca alternativas para diminuir o impacto do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A sobretaxa deve entrar em vigor em 1.º de agosto.
Alckmin tem dito que gostaria de mais tempo para negociar. Até agora, ele não recebeu qualquer resposta da Casa Branca. De qualquer forma, nas próximas horas a equipe econômica anunciará um plano de contingência que prevê a concessão de crédito a setores afetados pelo tarifaço.
Desde 2023, Lula se aproximou muito do vice, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. De antigo adversário quando integrava as fileiras do PSDB e era chamado de “picolé de chuchu”, Alckmin é hoje considerado pelo presidente como o vice dos sonhos e um político leal.
Na conversa com João Campos, que também é presidente do PSB, Lula tratou, ainda, das eleições para os governos de São Paulo e Pernambuco, além de Maranhão e Paraíba, onde há divergências entre os aliados. Campos planeja concorrer ao governo de Pernambuco e terá o apoio do PT nessa empreitada.
O PT não tem nome competitivo para disputar o Palácio dos Bandeirantes e pode apoiar Márcio França (PSB), que deixará o ministério, em abril, para entrar na disputa. Mas o assunto ainda está em discussão porque Lula precisa de um palanque forte em São Paulo, o principal colégio eleitoral do País.
Uma ala do governo avalia que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), será candidato à reeleição em São Paulo – onde tem grande chance de ser reconduzido ao cargo, de acordo com pesquisas –, e não correrá o risco de enfrentar Lula.
Qualquer definição sobre o futuro de Tarcísio, porém, passará pelo crivo de Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) na ação sobre a suposta trama golpista.
Nos bastidores do governo, há uma avaliação de que, se Tarcísio não disputar o Palácio do Planalto, uma boa parte da direita pode apoiar a candidatura do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD) à sucessão de Lula.
Ratinho Júnior tem boa pontuação nas pesquisas à frente do governo paranaense e, no diagnóstico traçado por petistas, tende a carregar a popularidade do pai, o apresentador Ratinho.
Ex-governador de São Paulo, Alckmin também teve o nome citado por colegas, recentemente, para voltar a concorrer ao Bandeirantes, mas não quer assumir essa tarefa. Se não for mais uma vez vice de Lula, como tudo indica até agora, ele pode até mesmo disputar o Senado. Mas esse não é o cenário como o qual o presidente trabalha no momento.
O MDB está dividido: uma ala quer apoiar Lula, outra defende o aval a Tarcísio – se ele entrar no páreo presidencial – ou a outro nome no espectro da direita e há ainda um terceiro time, que defende candidatura própria.
O grupo do MDB que prega a reedição do apoio a Lula quer ter o vice da chapa. O nome sugerido para a vaga, neste caso, é o do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). Ao que tudo indica, no entanto, Renan Filho tentará voltar ao governo de Alagoas, Estado que já administrou durante durante oito anos, de 2015 a 2022.
Deu no Estadão