O anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a aplicação de uma tarifa de 50% a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto provocou reação imediata no mercado e também entre especialistas. Analistas políticos ouvidos pelo portal LeoDias avaliam que a medida vai além de uma estratégia comercial e escancara um novo capítulo na já desgastada relação entre os governos de Trump e Lula, com implicações diretas no cenário diplomático e econômico brasileiro.
Para o analista político Alexandre Bandeira, a decisão de Trump representa uma mistura explícita entre interesses econômicos e ressentimentos políticos. Segundo ele, esse tipo de tarifação é um instrumento recorrente nas disputas globais, mas o atual caso ganhou contornos pessoais.
“O que Trump fez de novo foi inaugurar uma nova instância de comércio internacional, onde com um cartaz e um pincel na mão, determina, entre as quatro paredes do Salão Oval, o que acha conveniente. O componente pessoal se sobrepôs ao técnico”, afirma Bandeira.
No entendimento do especialista, a referência direta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) , atualmente réu no Supremo Tribunal Federal, expõe uma motivação que ultrapassa a lógica econômica.
“Há um copo que transbordou e que vinha sendo enchido desde o período pré-eleitoral norte-americano, desde quando Lula associou Trump ao nazismo, e até recentemente, com a tentativa de polarização com os EUA tendo como escudo os BRICS”, explica.
Bandeira também alerta para os impactos internos da medida: “Mais que uma crise econômica, existe hoje uma crise diplomática patrocinada pessoalmente pelos presidentes das duas nações. Isso pode gerar prejuízos reais para os dois lados, do lado brasileiro, com retração no setor exportador e risco de demissões, do lado norte-americano, com inflação. No campo internacional, é um jogo de perde-perde.”
A cientista política Luciana Santana reforça a análise e acrescenta que a medida adotada por Trump é uma retaliação política com efeitos profundos.
“Essa tarifa não atinge apenas o governo brasileiro, mas o Estado como um todo. É uma tentativa clara de interferir nas decisões internas do país, principalmente no Judiciário, que é quem conduz o processo envolvendo Bolsonaro. Isso ultrapassa o campo do Executivo e afeta diretamente a soberania institucional do Brasil”, analisa.
Santana destaca que a escolha pelo setor comercial não é por acaso: “É uma forma rápida de gerar impacto. O agronegócio, os exportadores, os setores estratégicos brasileiros serão os primeiros atingidos. E isso se reflete diretamente na população, com efeitos em cadeia: dos preços dos alimentos aos empregos.”
A especialista também associa o movimento ao contexto geopolítico recente.
“Esse episódio acontece logo após o encontro dos BRICS no Brasil, que teve um simbolismo importante. Existe uma tentativa da extrema-direita internacional, liderada por Trump, de criar comoção global em torno de Bolsonaro, colocando-o como vítima do Estado brasileiro. É uma estratégia midiática e política articulada.”
Apesar da tensão, Luciana acredita que a diplomacia brasileira pode ser decisiva na contenção da crise.
“Nossa diplomacia é experiente. Ainda há espaço para negociação técnica e construção de contrapropostas junto ao governo norte-americano. A medida tem viés ideológico, mas cabe ao Itamaraty buscar caminhos mais pragmáticos.”
Deu no Portal Léo Dias