Os médicos da rede municipal de Natal podem deflagrar uma nova paralisação nos próximos dias, caso as negociações com a Prefeitura por reajuste das gratificações, congeladas há sete anos, não avance. A informação foi confirmada pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (SINMED-RN), Geraldo Ferreira, que classificou a situação como insustentável e cobrou mais compromisso por parte do Executivo, durante entrevista ao Ligado nas Cidades, da Jovem Pan News Natal (93,5 FM).
Segundo ele, a proposta do sindicato é considerada equilibrada, já que não envolve aumento no salário base, um dos principais entraves alegados pela gestão. “Nós propusemos apenas uma readequação nas gratificações. Elas estão há sete anos sem qualquer correção. Não é justo que outras categorias já tenham sido contempladas e os médicos continuem sem resposta”, afirmou.
De acordo com Geraldo Ferreira, os médicos foram recebidos pelo secretário municipal de saúde, Geraldo Pinho, mas a negociação não avançou. “O tratamento foi cordial, mas a experiência nos mostra que sem pressão, nada acontece. É sempre aquela conversa: vocês merecem, trabalham muito, mas na hora de assinar, não assina. Se não houver acordo, vamos às ruas, montar um palanque na Rio Branco e ouvir a população sobre o que pensa da saúde pública”, anunciou.
A estratégia de abrir o microfone para a população tem se mostrado eficaz em manifestações anteriores. “A população está muito atenta. Tivemos um caso impactante em uma UPA, em que um paciente psiquiátrico, internado há mais de 48 horas, pediu o microfone e exigiu leitos adequados. Isso mostra o grau de consciência das pessoas”, relatou Melo.
Carência de leitos e sobrecarga estrutural
O presidente do SINMED-RN aproveitou para denunciar a crítica situação da rede hospitalar da capital, marcada por superlotação nas UPAs e falta de vagas para internação, inclusive de UTI. Ele citou o Hospital Walfredo Gurgel, maior unidade do estado, como exemplo da precariedade: “Cada UPA tem cerca de 20 pacientes esperando leitos hospitalares, muitos deles graves. A estrutura está no limite.”
A falta de integração entre os entes públicos é outro obstáculo. “O município inaugura hospital, mas não consegue manter. O estado anuncia hospital metropolitano, mas suspende a licitação. Em São Gonçalo, há um hospital pronto que o prefeito diz não ter como operar. O modelo de financiamento está distorcido. Os municípios chegam a gastar 30% com saúde, quando o ideal seria 12%. O governo federal precisa ampliar os repasses”, defendeu.
Melo também destacou a alta demanda por cirurgias ortopédicas, agravada pelos frequentes acidentes de moto, que geram até 10 internações por dia, cada uma custando em média R$ 6 mil. “É um problema estrutural. O Walfredo faz o que pode, heroicamente. Mas faltam leitos, insumos, alimentação adequada e sobram atrasos com prestadores. Há até projeto de lei para impedir a retenção de macas pelo SAMU. A situação é crítica.”, explicou.
Insalubridade e periculosidade sob revisão
Outra pauta importante para a categoria é a revisão dos adicionais de insalubridade e periculosidade para os profissionais da saúde, especialmente os que atuam no Walfredo Gurgel. De acordo com Geraldo Ferreira, o hospital expõe os trabalhadores a agentes infecciosos, secreções e riscos biológicos comparáveis ao Hospital Giselda Trigueiro, que já reconhece insalubridade máxima de 40%.
Além disso, há exposição constante a radiação de raios-X e tomografia, o que pode justificar o adicional por periculosidade, com percentual de 30%. “Estamos realizando vistorias. A insalubridade é normalmente calculada sobre o salário mínimo, mas no Rio Grande do Norte conseguimos que incida sobre o salário base. A periculosidade sempre é sobre o salário base, o que dá mais segurança jurídica.”
Ferreira explicou ainda a diferença entre os dois adicionais: “A insalubridade trata de uma exposição contínua a riscos. A periculosidade é o risco imediato, como acontece com eletricidade, radiação ou até a violência. E os profissionais de saúde, especialmente no Walfredo, estão sujeitos a tudo isso.”
Deu na ‘Tribuna do Norte’