VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES
O valor gasto pelo governo federal com pagamentos indevidos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) é quase três vezes superior ao total investigado de possíveis descontos irregulares feitos por entidades na folha de pagamento de aposentados e pensionistas na chamada farra do INSS.
Como mostrou a coluna, entre 2019 e 2025, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mapeou em R$ 16,4 bilhões em BPC pago de forma indevida ou parcialmente indevida.
A operação Sem Desconto, que mira a farra do INSS revelada pelo Metrópoles, investiga possíveis irregularidades em R$ 6,3 bilhões em descontos.
Nesse cenário, o valor do rombo causado pelo BPC nos cofres públicos é quase três vezes maior do que o apurado na farra do INSS.
A diferença pode ser ainda maior uma vez que dos R$ 6,3 bilhões investigados pela Polícia Federal na farra do INSS, apenas uma parte foi cobrada de forma irregular, sem autorização dos aposentados.
O BPC é o pagamento de um salário mínimo mensal a idosos com 65 anos ou mais e à pessoa com deficiência. Um dos pré-requisitos é que a renda por pessoa da família seja igual ou menor que 25% do valor do salário mínimo.
No caso das pessoas com algum tipo de deficiência, há a necessidade de passar por uma avaliação médica e social no INSS. O objetivo é apontar se a deficiência causa impedimentos que de alguma forma impedem, de acordo com o site do governo federal, a pessoa de “participar de forma plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas.”
Os dados sobre o rombo no BPC foram enviados pelo INSS a partir de um pedido da coluna via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Entre 2019 e 2025, diz o INSS, foram concluídos 534.125 processos administrativos. Nesses procedimentos, de acordo com os dados do INSS, foram efetuados pagamentos indevidos no total de R$ 13,3 bilhões e outros R$ 3 bilhões em parcialmente indevidos.
O órgão federal apontou ainda uma quantidade muito reduzida de valores restituídos. Segundo o INSS, somente R$ 8,7 milhões retornaram aos cofres públicos
“Das apurações com parecer irregular ou parcialmente irregular foram levantados o montante de R$ 16.463.269.082,29 de pagamentos indevidos nos BPC’s apurados. Dos quais, R$ 8,75 milhões foram restituídos em 2024”, diz o INSS na resposta da LAI.
De acordo com as normativas federais, a coordenação, regulação, monitoramento e avaliação da prestação do benefício cabe à Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Já a operacionalização do benefício é de responsabilidade do INSS, que fica com a tarefa de concessão, manutenção, revisão e pagamento do benefício.