Quase uma década após a inauguração em 2016, o Mercado das Rocas permanece subutilizado e com sinais de abandono, apesar da grande importância histórica para a zona Leste de Natal. O equipamento público conta com 83 boxes, mas atualmente apenas oito estão em funcionamento. A baixa movimentação, associada a problemas estruturais, tem afastado comerciantes e clientes, o que resulta em um espaço cada vez mais deserto, apesar dos quase 4 mil m² de área. A Prefeitura de Natal diz que uma das possíveis soluções é a adoção do modelo de gestão por meio de uma parceria público-privada, mas a ideia ainda está sendo discutida.
O secretário municipal de Serviços Urbanos, Felipe Alves, afirma que fará uma visita ao local nesta semana, ao lado do titular da Secretaria de Parcerias, Arthur Dutra, para estudar medidas contra o esvaziamento. “Nós estamos, exatamente, analisando alternativas, juntamente com a Secretaria de Parcerias. O Prefeito já solicitou que a gente realmente estude essas alternativas. Existe uma ideia de uma concessão, de uma parceria público-privada, que pudesse realmente alavancar aquele equipamento”, comenta.
Ele explica que o mercado faz parte de um estudo mais amplo, que analisa outros equipamentos municipais que poderão ser objeto de concessão ou parceria. “A própria Semsur está fazendo um estudo sobre isso, sobre outros equipamentos que poderiam ser objeto de uma concessão, de uma parceria público-privada, para encaminhar para a Secretaria de Parcerias. E o Mercado da Rocas está entre essas prioridades porque é um equipamento muito importante para Natal”, acrescenta.
Segundo Felipe Alves, as dificuldades estruturais do prédio também precisam ser consideradas. “A gente ainda está levantando as possibilidades, até porque existem problemas também estruturais. A questão da climatização, então a solução não é tão simples assim porque também tem essas questões estruturais que precisam ser levadas em conta e solucionadas pelo investidor ou pelo próprio município. A gente está realmente analisando esse cenário, mas com foco, até para que a gente leve ao prefeito essas ideias”, pontua.
Para os poucos permissionários que ainda resistem no local, a situação é de tristeza e desânimo. Lúcia de Fátima, 62, permissionária de uma pequena padaria no Mercado das Rocas, lamenta que o mercado seja tão pouco explorado. “Eu sinto uma tristeza muito grande. Isso aqui foi conquistado com muita dificuldade, quase que a gente não conseguiu estar aqui, isso aqui é através de leilão, licitação, não foi fácil e não está sendo fácil para manter. Aqui a gente tem que pagar energia, tem que pagar o gás, mas cadê o público? Nós temos um espaço belíssimo, mas falta um olhar do poder público”, comenta.
Lúcia também é descrente quanto à revitalização do espaço, resultado de diversas promessas frustradas no passado. “Infelizmente, não tenho esperanças de que vão resolver essa situação. Não tenho, porque são muitos anos. Tudo está caindo, o teto, é uma situação crítica, coloco essa panela ali em cima porque quando chove começa a pingar. Já vieram aqui, olharam, olharam, falaram com a gente, disseram que iam resolver, mas até agora nada. Não acredito em mais promessas porque já estou saturada por tudo que foi dito ao longo dos último anos”.
Maria de Fátima “Nininha”, 62, que trabalha um restaurante no mercado, compartilha do mesmo sentimento. “É difícil pensar que vai ter alguma melhoria porque tem muita promessa. Eles vêm aqui, olham, o pessoal da Semsur vem, olha, diz que vai ver isso, vai ver aquilo, mas até agora estamos nessa esperança aí. É uma esperança que não é esperança. Sinceramente eu sinto uma tristeza profunda, porque a gente tem um potencial grande, aqui a comida é boa, comida é caseira, comida é feita todo dia, fresquinha, consigo manter porque tem umas clientes que já vêm aqui, vem gente de fora, o pessoal da guarda vem”, diz.
Ela relata também os dias difíceis enfrentados para manter o restaurante funcionando. “Agora que a gente tem esse pessoal vindo, depois desse tempo todo o que a gente tem aqui. Foi muito sofrimento, tinha dia que eu dizia para meu filho: ‘vamos embora porque aqui não tem futuro’. No outro dia eu ficava em casa pensando, meu Deus e agora? E a gente voltava, tinha que voltar, porque sempre tem aquela fé, quem tem Deus tem uma fé. Mas a situação é triste”, complementa a comerciante.
Deu na Tribuna do Norte