Governo usa gatinhos para vender ideia de mais impostos “para ricos”

Reprodução/ Redes sociais

Em meio a um clima de forte tensão entre o Planalto e o Congresso Nacional desde a derrubada do decreto presidencial para o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), na última semana, o governo Lula está investindo na estratégia de comunicação de opor interesses de ricos e pobres, dizendo que toma partido dos menos favorecidos. E os memes nas redes sociais fazem parte dessa estratégia.

O discurso tenta se conectar com demandas populares e com a insatisfação do público com a atuação do Legislativo. O governo busca se aliar a militantes e pegar carona em postagens como as que clamam pela “taxação BBB”, em referência a “bilionários, bets e bancos”.

Nesta semana, a comunicação oficial está apostando no populares memes de gatinhos. Através das redes sociais, o governo compartilhou nesta sexta-feira (4/7) uma série de imagens dos animais com frases como “menos impostos para gatinhos trabalhadores” e “os ricos precisam pagar imposto de renda também.” Veja:

 

Na legenda da publicação é afirmado: “Imagina um gatinho que ganha até R$5 mil por mês… ele quer miar tranquilo! A proposta do Governo Federal é isentar esses felinos trabalhadores do Imposto de Renda, trazendo mais justiça tributária para quem mais rala (ou mia) todo dia. É menos imposto e mais sachê no fim do mês!”.

E não foi a primeira vez que o governo apostou nos gatinhos para transmitir a mensagem de promover a taxação dos mais ricos. Nessa quinta-feira (3/7), o governo compartilhou um vídeo intitulado “explicando com gatinhos a proposta de mudanças no imposto de renda”.

“A gente viu esse tipo de formato fofo, narrativo e memético circulando em diferentes redes e resolveu aplicar no Gov também, para explicar de forma lúdica e acessível a proposta de atualização das regras do IR. […] É menos desconto no contracheque e mais chance de viver com dignidade. Isso significa… comidinha garantida, contas em dia, respiro no fim do mês. Bom demais, né?”, afirma a legenda.

Conforme dados da consultoria Nexus, entre 23 de junho a 3 de julho, as postagens com críticas ao Congresso e a taxação de ricos já acumulam 2,13 milhões de curtidas e 43,8 milhões de impressões. Os termos mais citados incluem “Congresso da Mamata” e “Congresso Inimigo do Povo”.

 

Estratégia política reflete na militância

Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exibir um cartaz pedindo a taxação dos super ricos, durante evento que celebrou a independência da Bahia – a foto do momento foi compartilhada no perfil do presidente -, manifestantes ocuparam, com faixas e cartazes, a sede do Itaú localizada na Avenida Faria Lima, zona oeste de São Paulo, exigindo justiça tributária e maior taxação de milionários no Imposto de Renda.

Em clima de pré-campanha eleitoral, o Partido dos Trabalhadores (PT), sigla de Lula, também aposta na estratégia do debate de “ricos contra pobres”. Na última semana, o partido divulgou, também nas redes, um vídeo feito com uso de Inteligência Artificial (IA) que mostra pobres carregando sacos pesados de “imposto” e ricos com sacolas leves.

“É hora de rachar a conta Brasil de forma mais justa: quem tem mais paga mais. Quem tem menos, paga menos. E quem é a favor do povo, aprova essa ideia”, escreveu a sigla.

Como mostrado pelo Metrópoles na coluna de Igor Gadelha, a nova estratégia de comunicação parece ter surgido efeito. Nos últimos dias, ministros de Lula enviaram à coluna “trackings”( pesquisas internas que não são registradas oficialmente) de bancos apontando melhora na aprovação do governo Lula.

Para auxiliares presidenciais, essa melhora seria resultado da retórica do “ricos versus pobres” adotada pelo governo e pelo PT, com aval de Lula, após a derrubada do decreto do IOF pelo Congresso Nacional.

“Uma semana de campanha ‘ricos contra pobres’ funcionou. A oposição deu um presente para o governo”, avaliou à coluna, sob reserva, um influente ministro do governo que acompanha de perto o tema.

Deu no Metrópoles

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