Matias Martín Campaya/EFE
A 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada nesta quinta-feira (3) em Buenos Aires, foi marcada por discursos contrastantes dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Javier Milei (Argentina). Ao assumir a presidência temporária do bloco, Lula enfatizou a importância do Mercosul como um porto seguro em um cenário global instável, enquanto Milei defendeu uma guinada em direção à “liberdade comercial”, sem descartar a atuação individual da Argentina.
O presidente brasileiro destacou que o Mercosul é uma “casa com alicerces sólidos, capaz de suportar a força das intempéries”, ressaltando que o bloco protege seus membros de “guerras de comércio exterior” e os credencia como “parceiros confiáveis” no cenário global. Para Lula, a união aduaneira e a Tarifa Externa Comum são mecanismos essenciais de proteção e integração.
“Quando o mundo se mostra instável e ameaçador, é natural buscar refúgio onde nos sentimos seguros. Para o Brasil, o Mercosul é esse lugar”, declarou o petista. “Toda a América do Sul se tornou uma área de livre comércio baseada em regras claras e equilibradas. Estar no Mercosul nos protege. Nossa tarifa externa comum nos blinda de guerras comerciais alheias. Nossa robustez institucional nos credencia perante o mundo com parceiros confiáveis”, acrescentou.
Em contrapartida, Milei, ao deixar a presidência temporária, argumentou que o Mercosul deve deixar de ser um “escudo que nos protege do mundo” e se tornar uma “lança que nos permite entrar efetivamente nos mercados globais”. O líder argentino, que já ventilou a possibilidade de saída do bloco, defendeu a flexibilização das regras e a inclusão de mais itens nas excepcionalidades das tarifas comuns, visando maior liberdade comercial para os membros.
Apesar da passagem de comando, Lula e Milei não tiveram um encontro bilateral. A relação entre os dois chefes de Estado, marcada por divergências ideológicas e críticas públicas de Milei a Lula durante a campanha eleitoral argentina, tem sido conduzida de forma pragmática pelas chancelarias. Enquanto o brasileiro se reuniu com os presidentes do Paraguai, Santiago Peña, e da Bolívia, Luis Arce, Milei teve encontros com o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, e do Panamá, José Raúl Mulino. A agenda de Lula incluiu ainda uma visita à ex-presidente argentina Cristina Kirchner, um sinal adicional do distanciamento entre os dois líderes.
Prioridades brasileiras: Fortalecimento interno e olhar para a Ásia
Lula delineou cinco pilares para a presidência brasileira do Mercosul:
- Fortalecimento do comércio: incentivar o uso de moedas locais nas transações e incluir os setores automotivo e açucareiro na união aduaneira.
- Enfrentamento das mudanças climáticas e transição energética: promover a agricultura sustentável e o papel da América do Sul na transição energética, com a COP 30 em Belém como vitrine.
- Desenvolvimento tecnológico: buscar parcerias e soberania digital na região, com foco em Inteligência Artificial.
- Combate ao crime organizado: intensificar a cooperação regional contra o tráfico, crimes ambientais e corrupção.
- Promoção dos direitos dos cidadãos: retomar a Cúpula Social e a Cúpula Sindical do Mercosul.
O presidente brasileiro também destacou a necessidade de o Mercosul olhar para a Ásia, considerada o “centro dinâmico da economia mundial”, buscando maior aproximação com países como Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia. Lula expressou confiança de que os acordos de livre comércio com a União Europeia e a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio, composta por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) serão assinados até o final do ano.
A conclusão das negociações com a EFTA foi anunciada na quarta-feira (2), e o acordo, que visa criar uma zona de livre comércio com quase 300 milhões de pessoas e um PIB combinado de mais de US$ 4,3 trilhões, está em fase de revisão. O presidente brasileiro também afirmou que pretende avançar nas negociações com Canadá, Emirados Árabes Unidos, Panamá e República Dominicana, além de atualizar os acordos com Colômbia e Equador.
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