IBGE: percentual de jovens “nem-nem” no RN cai ao menor nível em 10 anos

O número de jovens entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham no Rio Grande do Norte voltou a cair em 2024 e atingiu o menor patamar desde 2014, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento aponta que 23,9% dos jovens potiguares estão atualmente nessa condição, índice que representou uma redução de 4,1 pontos percentuais em relação a 2014, quando o estado registrava 28%. O percentual, embora ainda superior à média nacional (18,5%), está abaixo da média do Nordeste (25,3%).

A superintendente do IBGE no Rio Grande do Norte, Fabiana Fábrega, considera a queda expressiva. Apesar do Instituto não investigar diretamente as causas da evasão escolar ou da exclusão do mercado de trabalho, é possível identificar indícios ao cruzar os dados com outras pesquisas e indicadores sociais. “A mulher é mais afetada tanto em relação ao estudo quanto ao trabalho, mas sobretudo ao mercado de trabalho. De modo geral, a gente correlaciona isso à falta de uma rede de apoio, seja para que crianças ingressem na creche, ou o cuidado da pessoa da família”, explica.

A desigualdade de gênero persiste como um dos principais fatores na composição desse grupo. No estado, 30,5% das mulheres entre 15 e 29 anos estão fora da escola e do mercado de trabalho, enquanto entre os homens o índice é de 17,3%. Em 2023, esses percentuais eram de 36,3% e 21,1%, respectivamente. A queda mais significativa entre as mulheres sugere impacto direto de políticas públicas de ampliação do acesso à educação infantil.

“Quando há uma melhoria do acesso à creche ou outros espaços de convivência em que a mulher consegue estar mais liberada desse cuidado a crianças e às pessoas da família, ela consegue se inserir melhor no mercado de trabalho”, completa Fabiana. Entre os homens, a redução de 21,1% para 17,3% também pode indicar sinais de reaquecimento da economia, ocasionando a facilitação dos mais jovens no mercado de trabalho, segundo a superintendente.

O recorte racial também revela disparidades persistentes. Entre os jovens potiguares pretos ou pardos, 25,4% estão fora da escola ou do mercado de trabalho, contra 21,2% entre os brancos. Para Fabiana, esse dado remete a questões estruturais que envolvem tanto o acesso à educação quanto as barreiras na inserção laboral. A diferença entre os grupos raciais, embora ainda presente, diminuiu em relação a 2023, quando os índices eram de 30,8% entre os jovens pretos ou pardos e 24,2% entre os brancos.

A retomada do acesso à creche e escola na primeira infância também pode contribuir, em médio e longo prazo, para a redução da taxa de jovens “nem-nem”. Dados da Pnad Contínua mostram que, no Nordeste, a frequência escolar entre crianças de 0 a 1 ano passou de 5,9% em 2023 para 8,1% em 2024. Na faixa de 2 a 3 anos, a frequência passou de 60,2% para 60,0%, mantendo-se estável. Entre os pequenos de 4 a 5 anos, a frequência à escola ou creche chega a 94,9%, refletindo a consolidação da obrigatoriedade da pré-escola.

Apesar do avanço observado no Rio Grande do Norte, o estado ainda está distante da média nacional. A diferença de 5,4 pontos percentuais em relação ao índice do Brasil expõe fatores regionais que dificultam a inclusão produtiva e educacional da juventude. “Se você tem uma economia mais desaquecida e diferenças de políticas públicas para a inserção do jovem na frequência escolar, você vai ter essas diferenças”, afirma Fabiana Fábrega.

Segundo a superintendente do IBGE no RN, a pandemia agravou essa realidade, elevando os índices de exclusão. “Houve um aumento desse número de nem-nem. E agora ele volta para índices pré-pandêmicos e abaixo dos pré-pandêmicos”, completa. Políticas públicas voltadas à educação, combate à pobreza e à equidade racial são apontadas por Fabiana como fundamentais para romper o ciclo que afasta parte significativa da juventude das salas de aula e do mercado de trabalho.

Em nível Brasil, a porcentagem total de “nem-nem” era de 20% em 2022, registrando uma redução para 19,8% em 2023 e para 18,5% em 2024. Em nível Nordeste, os mesmos números eram 27,4%, 27,4% e 25,3%, respectivamente. Já no Rio Grande do Norte, foram 27,3% em 2022, 28,4% em 2023, e 23,9% em 2024.

Deu na Tribuna do Norte

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