Fernando Frazão/Agência Brasil
Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) revelam como um lobista tentou articular um empréstimo de R$ 300 milhões com documentos fraudulentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para donos de fintechs suspeitas de lavagem de dinheiro.
O material apreendido envolve a I9Pay, uma das fintechs alvo da Operação Concierge, deflagrada em agosto do ano passado. A PF encontrou mensagens entre o empresário Patrick Burnett, dono da fintech, e o lobista Christian Simões, que se dizia próximo de pessoas do BNDES, e prometeu facilidades para intermediar o empréstimo.
A suspeita é de que a dupla usou documentos fraudulentos que inflavam o capital da I9Pay para o valor de R$ 6 milhões, além de fraudar um balanço anual deficitário da empresa, com a finalidade de conseguir a aprovação de um crédito multimilionário no BNDES.
“Agora vou abrir o coração pra você: conversei com a Tainá e você tem lá trezentos milhão mesmo viu meninão! Vou buscar esse dinheiro pra você, tá? Trezentos milhões você tem mesmo lá viu, eu gosto de você porque você não mente, você é um cara verdadeiro”, disse Simões a Burnett em uma das mensagens.
Em resposta, o empresário disse ao lobista: “Fala mestre, como é que você está? Tudo bem? Beleza aí? Bom eu tô com a senha aqui, sexta-feira eu estou com mago, já pra estruturar já números né? Porque eu vou dar a entrada com cento e sessenta tá, e aí vai bingar!”.
Entenda o caso
- O lobista Christian Simões foi um dos alvos da Operação Wolfie, deflagrada em outubro de 2024, um desdobramento da Operação Concierge, que chegou a prender, em agosto do mesmo ano, 14 suspeitos por lavagem de dinheiro de R$ 7,5 bilhões.
- A investigação corre em segredo de Justiça. O Metrópoles obteve acesso ao processo.
- A Concierge apurou a existência de fintechs — empresas de tecnologia que operam no setor financeiro —, que se auto-intitulavam bancos, vendiam serviços bancários que ofereciam contas correntes que passavam abaixo do radar do Banco Central para bloqueios e investigações, facilitando operações ilícitas.
- Esses falsos bancos tinham como clientes, inclusive, empresas de ônibus paulistas envolvidas com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
- Foi investigando esta rede de lavagem de dinheiro que a PF identificou a tentativa de tomar R$ 300 milhões do BNDES com documentos falsos.
Investigação e “boquinha”
Tainá e outros nomes mencionados nas mensagens apreendidas são citados como funcionários do BNDES. Em uma das linhas de investigação, a PF suspeita que esses contatos sejam reais e facilitavam a atuação do lobista dentro do banco federal.
Outra hipótese é que o lobista vendia uma falsa influência dentro da instituição, uma vez que não foram encontrados registros de entrada de Simões no BNDES. O banco rejeitou a concessão do crédito intermediada por ele e considerado vítima.
Em outra referência à suposta influência com servidores do banco, o lobista disse ter uma “boquinha” no BNDES. “Eu confio no que você fala, entendeu, e eu não quero queimar essa boquinha minha do BNDES não, entendeu?”.
Antes da operação, o lobista voltou a prometer ao empresário que a negociação daria certo. “Olha, até outubro seu dinheiro está na mão tá, foi o prometido”. “E prometeram pra mim até outubro, tá? O seu está garantido no seu e mais três”, disse, em referência a funcionários do BNDES.
À época da operação, o BNDES afirmou que os mecanismos de compliance do banco funcionaram e barraram a tentativa de fraude no empréstimo, e disse que apoia a apuração da Polícia Federal.
Deu no ‘Metrópoles’