México realiza primeira eleição para juízes à sombra do narcotráfico e com direita defendendo abstenção

Sede da Suprema Corte, na Cidade do México: população vai escolher ocupantes de 881 cargos no Judiciário, incluindo os nove ministros do tribunal (Foto: EFE/Isaac Esquivel)

Neste domingo (1º), o México realiza sua primeira eleição para juízes, na qual a população escolherá ocupantes de 881 cargos no Judiciário, incluindo os nove ministros da Suprema Corte.
Será a primeira escolha de juízes por voto popular desde que uma mudança nesse sentido, proposta pelo então presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador (2018–2024), foi aprovada pelo Congresso mexicano no ano passado.
A eleição para juízes divide o mundo político do México. Quando a medida foi aprovada, em setembro, a então presidente eleita, Claudia Sheinbaum (que tomaria posse em 1º de outubro), que é do Morena, o partido de Obrador, disse que a mudança ajudaria a melhorar o Judiciário mexicano.
“Com a eleição de juízes, magistrados e ministros [da Suprema Corte], a administração da Justiça no nosso país ficará fortalecida”, escreveu Sheinbaum no X.

Entretanto, a oposição se manifestou contra a escolha de juízes pelo voto popular. Federico Döring, vice-coordenador da bancada do direitista Partido da Ação Nacional (PAN) na Câmara dos Deputados, defendeu a abstenção na votação deste domingo em entrevista ao jornal espanhol El País.
“O PAN não vai participar, participar é validar. Afinal, com que cara vou renegar a caricatura que a Suprema Corte se tornará se eu tiver participado da eleição?”, disse Döring.
Ao mesmo jornal, Rubén Moreira, coordenador da bancada do centrista Partido Revolucionário Institucional (PRI) na Câmara dos Deputados, também pregou boicote à eleição judicial.
“Não vou votar porque não quero validar a destruição do Poder Judiciário. Além disso, em uma democracia, não votar conscientemente também é um direito e uma defesa da opinião”, afirmou.

Críticos da eleição temem que ela possa fortalecer a interferência dos cartéis de drogas no Judiciário do México.
A ONG Defensorxs realizou um levantamento que identificou ao menos 21 candidaturas de “alto risco” para o pleito deste domingo, entre elas, a de Silvia Rocío Delgado García, ex-advogada de Joaquín “El Chapo” Guzmán Loera, ex-líder do Cartel de Sinaloa, que cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos. Ela concorre a um cargo de juíza criminal no estado de Chihuahua.
Outro candidato de “alto risco” citado pela Defensorxs foi Fernando Escamilla Villarreal, condenado por porte ilegal de arma e que atualmente defende acusados de pertencer ao Cartel dos Zetas. Ele tenta uma vaga de juiz distrital no estado de Nuevo León.
Em entrevista ao jornal Milenio, Gerardo Fernández Noroña, presidente do Senado do México e correligionário de Obrador e Sheinbaum, defendeu a eleição judicial mesmo que ocorra a abstenção em massa defendida pelos oposicionistas.

“Se 1 milhão de pessoas eleger o Judiciário [cerca de 100 milhões de mexicanos estão habilitados para votar neste domingo], [já] será muito mais do que aqueles que agora determinam seus integrantes”, afirmou.
Fernández disse que, mesmo que candidatos de “alto risco” sejam eleitos, as autoridades eleitorais mexicanas poderão barrá-los antes que tomem posse. “Isso ajudará a corrigir o que precisar ser corrigido”, argumentou.

Deu na Gazeta do Povo

Deixe um comentário

Rolar para cima