Tagliaferro citou suposta ajuda de Wajngarten e cogitou trabalhar para Musk nos EUA

Tagliaferro cogitou aceitar suposta intermedição para trabalhar com Elon Musk nos EUA. (Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE)

Mensagens capturadas pela Polícia Federal mostram que o perito judicial Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), confidenciou à mulher que o ex-secretário de Comunicação do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro Fabio Wajngarten poderia ajudá-lo a ir para os Estados Unidos. O perito também cogitou trabalhar para o bilionário Elon Musk.
“Conhece este?”, escreveu Tagliaferro à mulher em 19 de abril de 2024, enviando em seguida captura de tela do celular com pesquisa no Google contendo nome e foto do ex-secretário de Bolsonaro. “Quer me mandar para os Estados Unidos/Caso o cerco aperte na política”, completou depois.
Nessa época, havia quase um ano que Tagliaferro tinha sido demitido do TSE. Em maio de 2023, ele foi exonerado por Moraes do cargo que ocupava na Assessoria de Enfrentamento à Desinformação (AEED), após ser preso por causa de um desentendimento com a ex-mulher em casa.
As mensagens de 2024 foram extraídas do celular de Tagliaferro pela Polícia Federal na investigação sobre o vazamento de conversas que ele mantinha com a equipe de Moraes quando trabalhava no TSE. A Gazeta do Povo acessou as mensagens captadas no inquérito, que foram disponibilizadas publicamente pela PF, mas depois retiradas do ar.
Aliado próximo de Bolsonaro, Wajngarten foi chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) entre 2019 e 2021. À reportagem, ele negou contato com Tagliaferro e afirmou que nunca teve o número de telefone do ex-assessor de Moraes.

No diálogo com a mulher em 2024, Tagliaferro não deu mais detalhes sobre a suposta ajuda nem esclareceu se havia falado diretamente com Wajngarten ou se a informação vinha de uma pessoa ligada ao ex-secretário. O perito e sua mulher então continuaram a conversa por mensagens de áudio, que não foram disponibilizadas pela Polícia Federal.
Outra parte das mensagens mostra que Tagliaferro tinha medo de ser preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes ou até mesmo morto. Ele começou a ser investigado pelo STF após uma série de mensagens da Folha de S.Paulo em agosto de 2024. Elas revelaram comunicações entre Tagliaferro e outros assessores de Moraes que mostravam que o ministro tinha alvos pré-determinados ao solicitar investigações à AEED sobre publicações consideradas fake news nas redes sociais.

Na época da revelação das mensagens, o ministro afirmou que eram pessoas já investigadas no inquérito das fake news, no STF, e que, como presidente do TSE, Moraes também tinha poder de polícia para coletar provas contra os investigados.
Segundo as mensagens de WhatsApp acessadas pela Gazeta do Povo, no mesmo dia em que citou Wajngarten na conversa com a companheira, Tagliaferro retomou o assunto sobre ir aos Estados Unidos. Escreveu: “Já vou sair, meu advogado me chamou agora pouco por vídeo. Senado americano aprovou meu visto de residente anistiado, caso algo aconteça”, diz mensagem enviada às 18h46.
“E estão vendo de eu trabalhar com o Elon [Musk], mas isso é uma carta na manga. Não irá acontecer”, continuou o ex-assessor de Moraes. Em reposta, a mulher dele ponderou que não seria possível prever o que aconteceria: “Não sei né. Como você tem tanta certeza? Pode acontecer alguma coisa. Como também não pode”, escreveu.
Esse diálogo também não detalha mais informações sobre a citação que Tagliaferro faz ao bilionário Elon Musk, nem quem estaria intermediando a suposta negociação. O perito diz nas mensagens que não pretende ir aos Estados Unidos.

A conversa ocorreu após o caso Twitter Files, divulgado no Brasil em parceria com a Gazeta do Povo. Musk revelou um grande número de documentos internos do Twitter (que depois passou a se chamar X), a maioria troca de e-mails, que mostravam como o TSE e o Ministério Público solicitaram à rede social informações de usuários investigados, muitos deles censurados, prática vedada pelo Marco Civil da Internet.
No segundo semestre de 2024, Musk e Moraes entraram em atrito publicamente sobre a não indicação de um representante legal no Brasil e o X acabou suspenso temporariamente.
As conversas entre Tagliaferro e a mulher cogitando a ida dele para os Estados Unidos aconteceram no dia 19 de abril 2024, antes da publicação Folha de S. Paulo de sua troca de mensagens com outros assessores de Moraes, que ocorreu em agosto.

Tagliaferro cita Bolsonaro e diz que aceitaria cargo em seu governo

Além de Wajngarten, Bolsonaro também foi citado em uma conversa entre Eduardo Tagliaferro e sua companheira. No dia 14 de maio de 2024, o ex-assessor informou a ela ter tido uma reunião “assustadora”, sem dar detalhes de quem teria participado e qual teria sido o tema.
Ao ser questionado pela mulher, Tagliaferro disse: “Tenho que tomar cuidado. Bolsonaro quer se livrar mas não posso me ferrar”.
“Deixa ele se lascar sozinho kkk”, escreveu a mulher do ex-assessor de Moraes. Não há nenhum indício na conversa de que Tagliaferro tenha tido contato com o ex-presidente e as afirmações parecem escritas em tom de brincadeira.

“Se existisse a garantia de que as eleições seriam anuladas e ele o vitorioso e, me dando um belo cargo no governo, até topava. Nem queria cargo de ministro”, escreve o ex-assessor de Moraes.
“Nem queria cargo de ministro. O de conselheiro já era ótimo, salário de 180.000,00 e trabalha 1x por mês kkkk”, escreveu Tagliaferro.
A mulher escreveu então: “Mas não tem garantia”. Tagliaferro disse que não e ela respondeu: “Então não vale a pena”.

Mensagens em inquérito público contra Tagliaferro foram acessadas pela reportagem

As mensagens de Tagliaferro com a mulher, ocorridas ao longo de 2024, foram capturadas pela Polícia Federal (PF) para investigar se ele foi o responsável pelo vazamento à imprensa de mensagens sobre sua atuação na Assessoria de Enfrentamento à Desinformação do TSE.
Os arquivos foram disponibilizados numa pasta aberta na rede no último dia 1º de abril, com link e endereço na internet informado dentro de um relatório com a análise do material. As mensagens, que continham conversas íntimas do casal, ficaram disponíveis por quase duas semanas para acesso público.
Nesta quarta-feira (16), após a publicação das reportagens da Gazeta do Povo, os arquivos com a íntegra das conversas estavam retirados da pasta pública na internet.

Informações da Gazeta do Povo

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