Descoberta de restos de jardim no Santo Sepulcro confirma relato bíblico

O interior da Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, com destaque para a Edícula, a estrutura que envolve o lugar onde Cristo foi sepultado. (Foto: Christophe Petit Tesson/EFE/EPA)

“No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado. Foi ali que depositaram Jesus por causa da preparação dos judeus [para a Páscoa] e da proximidade do túmulo.” (Jo 19, 41-42)
Desde a época do imperador Constantino, no século 4.º, os cristãos já sabiam com um bom grau de precisão o local onde Cristo havia sido crucificado e sepultado, graças às peregrinações de Santa Helena, a mãe do imperador – até que ponto os detalhes do relato da descoberta da Verdadeira Cruz são reais ou lendários é algo que não nos interessa aqui. A Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém, foi construída sobre o local onde antes o imperador Adriano havia erguido um templo pagão. Agora, escavações na igreja revelaram a existência de um antigo jardim, confirmando a descrição feita por São João em seu Evangelho.
A equipe liderada pela professora Francesca Romana Stasolla, da Universidade de Roma “La Sapienza”, está realizando as maiores escavações sob a Basílica do Santo Sepulcro em mais de dois séculos, um trabalho iniciado em 2022 e que, de certa forma, está sendo facilitado nos últimos meses pela redução no fluxo turístico devido à ofensiva israelense em resposta ao massacre terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. No fim de março, os pesquisadores anunciaram a descoberta de restos de oliveiras e videiras, incluindo sementes e pólen. Stasolla disse ao jornal Times of Israel que, apesar de as amostras ainda não terem passado pela datação por carbono-14, as análises arqueobotânicas permitem colocar essas plantas na época em que Jesus viveu. “Nós sabemos que a área já era parte da cidade na época de Adriano, quando os romanos construíram Aelia Capitolina. Mas, na época de Jesus, essa região ainda não era parte da cidade”, diz a pesquisadora – Aelia Capitolina é o nome da cidade erigida pelos romanos no século 2.º, após a destruição de Jerusalém em 70 d.C., e os evangelistas também mencionam que Jesus foi crucificado fora dos muros de Jerusalém. “O Evangelho cita uma área verde entre o Calvário e a tumba, e identificamos esses campos cultivados”, acrescenta a arqueóloga.

Os trabalhos caminham muito lentamente, pois a equipe escava apenas pequenos pedaços por vez, para não prejudicar demais a visitação, mas falta pouco para que os pesquisadores terminem de varrer toda a área que gostariam de escavar. Stasolla disse ao Times of Israel que levará anos para analisar tudo o que vem sendo desenterrado – os restos do jardim talvez sejam o achado mais significativo, mas já foram encontradas moedas do século 4.º d.C., ossos de animais (indicando o tipo de dieta de peregrinos e moradores de Jerusalém) e 100 mil fragmentos de cerâmica, além de outros objetos e estruturas que ajudam a contar a história do local, que foi uma pedreira nos tempos do Antigo Testamento; a basílica original, da época de Constantino, foi incendiada e atacada por persas e muçulmanos nos séculos 7.º e 11, respectivamente, e seu aspecto atual data do século 12, graças a uma restauração promovida pelos cruzados.
“É a arqueologia falando com a fé”, diz pesquisadora
Falando à agência noticiosa católica Zenit, Francesca Stasolla se aprofundou um pouco mais sobre o significado da descoberta do jardim da época de Cristo. “Não estamos apenas lendo as Escrituras, nós entramos nelas”, comentou, acrescentando que “descobrir vestígios botânicos de terras cultivadas entre o local da crucifixão e a tumba não é mera coincidência. É a arqueologia falando com a fé (…) Sempre houve um debate entre a fé e a evidência, mas aqui estamos descobrindo que a fé deixou evidências”.
Mas a arqueóloga também avisa que não podemos tirar conclusões precipitadas do achado, ou afirmar que ele comprova algo além do que está nas evidências. A reportagem do Times of Israel perguntou a Stasolla se algum dia a arqueologia conseguirá comprovar que Jesus realmente esteve sepultado no local onde está a Basíica do Santo Sepulcro, e ela adotou uma atitude bem prudente. “A fé dos que acreditaram na santidade deste lugar permitiu que ele existisse e se transformasse. Isso vale para todo local sagrado (…). Independentemente de alguém acreditar ou não na historicidade do Santo Sepulcro, o fato de que gerações de pessoas acreditaram é objetivo. A história deste lugar é a história de Jerusalém, e, ao menos por um momento, é a história do culto a Jesus Cristo”, ela afirma.

Eu gosto dessa prudência. Dizer que um determinado achado arqueológico – no caso, a existência das oliveiras e parreiras – bate com uma descrição presente no Evangelho é uma coisa; dizer que esse achado comprova que Cristo de fato esteve enterrado naquela região é outra. A ciência só vai até um ponto, dali em diante é com a fé. O mesmo ocorre com o Sudário de Turim: os cientistas podem explicar as características do pano e da imagem, podem propor, analisar e descartar hipóteses sobre como a imagem foi feita, mas não terão como dizer que aquele foi o pano que envolveu o corpo do Senhor e que também é descrito nos Evangelhos. Aliás, desde os anos 70 sabemos que o Sudário também tem pólen e traços de plantas comuns na Palestina (mas também de outros locais, que batem com a história conhecida do pano).
Não sei se esse tipo de descoberta costuma transformar incrédulos em fiéis. Mas nós, que acreditamos, estamos para começar a semana mais importante do calendário cristão, e temos a certeza de que Ele ressuscitou. Desejo, então, antecipadamente, uma santa Páscoa a todos os leitores do Tubo de Ensaio!

Deu na Gazeta do Povo

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