Antes do “tarifaço” de Trump, a estimativa para 2025 do volume em dólares de importações de produtos e serviços pelos EUA variava entre US$ 4,3 trilhões e US$ 4,5 trilhões, com a China ocupando o segundo lugar, com cerca da metade desse valor. Em outras palavras, os americanos são, disparado, os maiores consumidores do mundo.
Não é à toa que o mundo está em polvorosa com as recentes medidas tarifárias, que praticamente destruíram o sistema internacional de comércio estabelecido nas últimas décadas, baseado em acordos multilaterais e uma relativa estabilidade.
Para os EUA, no entanto, esse modelo é catastrófico, mesmo sendo os americanos líderes em exportações globais. Isso se explica pelo déficit comercial, que, em 2024, alcançou US$ 918,4 bilhões, segundo dados recentes do Departamento de Comércio dos EUA.
Fica evidente que Trump busca reorganizar o comércio mundial para que os EUA alcancem um superávit comercial. Com a China, o déficit em 2024 foi de impressionantes US$ 295,4 bilhões, sendo notável que quase um terço do déficit comercial americano é com os chineses.
Por outro lado, as exportações chinesas para os EUA representam 15% do total de suas vendas externas, cerca de US$ 439 bilhões, justamente onde a China obtém seu maior e mais significativo superávit comercial.
Portanto, não faltam motivos e razões para as medidas de Trump. Contudo, elas trazem enormes riscos de inflação e recessão, tanto globalmente quanto no próprio EUA, o que pode ameaçar a aprovação popular do governo “trumpista”. O grande desafio está no fator tempo.
Não há dúvida de que os países querem vender para os americanos — afinal, o cliente sempre tem razão. Na minha visão, os EUA conseguirão reorganizar acordos que lhes tragam vantagens comerciais. Quanto mais rápido isso ocorrer, melhor para todos, tanto para quem quer vender quanto para quem quer comprar. A questão mais complexa é a China, mas a posição de quem compra é sempre mais vantajosa que a de quem vende.
A tendência é que também haja um acordo entre as duas potências, ainda que a um prazo maior, e ele deve ocorrer em condições mais favoráveis aos EUA. O pragmatismo prevalecerá, pois um mau acordo é melhor que nenhum acordo.
Enfim, o sucesso econômico da investida de Trump no médio e longo prazo parece favorável. A grande questão, porém, está no risco político, tanto interno quanto com os antigos aliados ocidentais. O tempo será o senhor da razão, e, para Trump, será a linha que separa o sucesso do fracasso — até porque, como diz o ditado, “se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come”.