Do cartão de vacina arquivado à baleia incomodada: a saga surreal de Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro parece ter mais sorte nos tribunais do que no mar. Nesta semana, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu o arquivamento da investigação sobre a suposta falsificação do cartão de vacina de Bolsonaro , alegando não haver elementos suficientes para responsabilizá-lo. Gonet argumentou que apenas a delação premiada do ex-ajudante Mauro Cid envolve diretamente Bolsonaro no esquema, sem provas autônomas que a corroborem – por isso, não caberia denunciá-lo. A defesa do ex-presidente comemorou o arquivamento como “desfecho esperado”, afirmando que o inquérito carecia de evidências e expressando expectativa de que outras investigações contra Bolsonaro tenham o mesmo destino . Como a acusação é prerrogativa do Ministério Público, pedidos de arquivamento tendem a ser acatados pelo Judiciário – e tudo indica que este caso seguirá esse roteiro sem surpresas.

Joias luxuosas, baleia furiosa e a justiça caprichosa

A decisão da PGR levantou sobrancelhas, mas esconder certificados de vacinação parece ter virado moda entre autoridades. O atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, recentemente impôs sigilo de 100 anos ao seu próprio comprovante de vacina, usando o mesmo argumento de “dados pessoais” que Bolsonaro invocara em 2021. Ironia das ironias: em 2020, o mesmo Lewandowski, então ministro do STF, ordenou que Bolsonaro divulgasse seus exames de Covid-19 . Ou seja, quando se trata de carteiras de vacinação, o critério parece flutuar conforme o CPF – e a imprensa não deixou passar essa coincidência incômoda.

Em paralelo, outras novelas judiciais de Bolsonaro seguem em curso – ou quase isso. No escândalo das joias sauditas, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente por suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa, ao investigar a venda ilegal de presentes de alto luxo recebidos do regime árabe. Resta saber se a PGR terá o mesmo ímpeto arquivador nesse caso brilhante, que segue sob análise. Já em águas brasileiras, Bolsonaro foi investigado por “importunação” a uma baleia jubarte – sim, uma baleia – após ser filmado se aproximando demais do animal com seu jet ski. O episódio rendeu ao capitão uma multa do Ibama de R$ 2.500 por “molestar de forma intencional espécime de cetáceo” nas águas do litoral paulista , infração ambiental pela qual o ex-presidente se defendeu nas redes sociais chamando a punição de “perseguição sem fim” . Entre arquivamentos generosos e multas marítimas, a justiça brasileira vai escrevendo um enredo digno do mais puro realismo mágico.

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