TJRN julga na próxima quarta-feira, 27, promotor que atropelou e matou o médico Ugo Guimarães; Família espera que a justiça seja feita

Sidharta John atropelou o Dr Ugo Guimarães Foto: Reprodução

 

 

Na próxima quarta-feira, 27 de novembro,  o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte irá finalmente julgar o promotor Sidharta John, acusado de ter sido causador do acidente que matou o médico paraibano Ugo Guimarães. O fato ocorreu em 2018, no município de São Miguel do Gostoso.

O julgamento será realizado pelo pleno do tribunal, quando os 15 desembargadores devem votar. O promotor Sidharta JOHN será julgado por homicídio culposo com a pena agravada pelo uso de álcool, por omissão de socorro e por atropelar a vítima na calçada.

Às vésperas do julgamento, as famílias Pessoa Albuquerque (a mesma do ex-presidente João Pessoa), Milanez e Guimarães geraram um ampla mobilização em Natal para consolidar a condenação do promotor Sidharta John. A Família quer apenas justiça.

O Caso

Na tarde do dia 2 de novembro de 2018, o médico teria estacionado e descido do carro que dirigia para pedir informações sobre a localização da pousada onde se hospedaria.

Quando retornava para o veículo, Ugo foi atingido pelo quadriciclo conduzido por Sidharta. De acordo com o Ministério Público, o promotor estava sob o efeito de bebidas alcoólicas.

Depois de ser socorrido, a vítima foi transferida para um hospital particular de João Pessoa, onde ficou internada entre os dias 3 e 18 de novembro de 2018, quando não resistiu aos ferimentos e morreu.

Amigo do médico paraibano,  José Juvêncio escreveu um texto sobre a trágica morte do Dr Ugo.

 

JUSTIÇA PARA MEU AMIGO-IRMÃO

​​​​​​José Juvêncio de  Almeida Filho

 

Nosso primeiro contato foi no mês de janeiro de 1969, na Secretaria da Faculdade de Medicina da Paraíba, à época funcionando na Cidade Baixa, no prédio, hoje em ruínas, ao lado do Cemitério Senhor da Boa Sentença, onde ele e eu, aprovados no Vestibular, cumpríamos as formalidades exigidas para a matrícula no Curso Médico.

Durante os trâmites burocráticos, não fomos além dos cumprimentos que a sociabilidade recomenda e uma ou outra observação pertinente ao que estávamos fazendo, mas, ao término de tudo, ele me ofereceu carona no Plymouth preto de capota amarela de propriedade de seu pai.

Aceitei e quando chegamos ao Ponto de Cém Réis, paramos à frente da Sorveteria Canadá e partimos para o que havíamos combinado no trajeto: um choppcomemorativo na tradicional Casa dos Frios.

Foi o início de uma amizade sólida e fraternal que se estabeleceu entre mim e Ugo Lemos Guimarães, ganhou vigor durante os seis anos do curso e se estendeu pela vida afora.

Nossa turma era diminuta. Uma das menores registradas no regime seriado que vigorava na época. Nos primeiros momentos, na fase de entrosamentos, quando poucos se conheciam uns aos outros, dava para se perceber que Ugo era visto com certa reserva, principalmente pelos colegas do interior, talvez em função de sua notória projeção social.

Em nenhum momento ele chegou a se perturbar com o comportamento arredio de alguns colegas e aos poucos, com seu manifesto companheirismo, bom humor permanente e espírito solidário, foi conquistando a simpatia geral e assumindo uma liderança que se tornou explícita quando o Curso se aproximava do final e sentimos a necessidade de escolher um Presidente para a Comissão formada com a finalidade de detalhar e operacionalizar os ritos da solenidade de formatura. Nem eleição houve. Ugo foi escolhido por aclamação.

O Curso seguiu por anos numa rotina que contemplava noitadas de estudos na casa de Ugo ou de algum outro do grupo formado por ele, Paulo Soares, Cícero Pereira, José Eymard, Espedito Cavalcanti e o signatário, alternadas por memoráveis incursões boêmias, até que um fato, absolutamente imprevisível, veio alterar a metodologia de nossa dinâmica de estudo e lazer: Ugo e Maria Arminda, no estilo do que só se encontra nos mais ardentes folhetins de tramas amorosas, protagonizaram uma fuga espetacular que culminou em casamento, ele cursando o quinto ano, ela recém-saída da meninice.

Perdemos o companheiro de estudo e de boemia mas eu, particularmente, ganhei uma amiga muito querida, que ratificou e ainda hoje utiliza, nas mensagens que trocamos com alguma regularidade, o título, para mim nobilitante, que Ugo me outorgou de amigo-irmão.

Ugo fez Residência no Rio de Janeiro. Eu em São Paulo.  Não nos vimos por dois longos anos. E aqui, de volta, continuamos sem nos encontrar com frequência, até por conta dos projetos que estávamos a executar. Ugo, com Alberto Urquiza Wanderley, Antônio Carneiro Arnaud e Carlos Agripino Branco dotando a cidade da Clínica São Camilo, modelar unidade de atendimento clínico e cirúrgico nas especialidades de Otorinolaringologia e Oftalmologia, enquanto eu e Renato Queiroz dávamos andamento ao projeto de criação da Clínica Ortopédica e Traumatológica de João Pessoa, hospital pioneiro no atendimento a acidentados que funcionou durante 40 anos, antes de surgir o Hospital de Emergência e Trauma.

Apesar dos encontros esporádicos, nunca nos perdemos de vista. Eventos  significativos como casamento dos filhos, nossas bodas de prata ou ouro, meus oitenta anos, aniversário de formatura, sempre ensejavam um reencontro pleno de alegres reminescências. Uma eventual chegada de Walkíria Chianca, única presença feminina na turma de 1965 da Faculdade de Medicina e pediatra em Brasília, era motivo para um jantar embalado por saudosas e alegres lembranças.

A vida seguia neste ritmo, até o dia 02 de novembro de 2018 quando fui violentamente abalado por uma terrível notícia: Ugo havia sido vítima de um atropelamento, estava internado num Hospital de Natal e seu estado de saúde era grave.

Busquei detalhes e tive a revoltante descrição do episódio.

Ugo, em companhia de Maria Arminda e a filha Adriana com seu esposo se dirigiam, de automóvel, para um final de semana em São Miguel do Gostoso (RN) onde pretendiam comemorar o aniversário de um deles.

Já no destino final, teve dúvidas quanto a localização da Pousada onde se hospedariam e parou numa Farmácia para pedir uma orientação. Retornando com as informações obtidas, caminhava despreocupadamente pela calçada quando foi violentamente alcançado por um quadriciclo desgovernado que o imprensou contra seu próprio carro. O condutor do veículo infrator, em avançado estado de embriaguez, era ninguém menos que um Promotor Público dos quadros da Justiça do Rio Grande do Norte, que fugiu do local sem nenhum gesto ou atitude de socorro à vítima.

Ugo foi atendido, inicialmente, num Hospital de Natal e depois transferido para o Hospital da Unimed de João Pessoa onde veio a falecer no dia 18 de novembro de 2018. Foi na UTI deste último que vivi um dos momentos de maior angústia na minha vida ao me ver, levado por minha filha Conceição de Maria, diante dos leitos emparelhados de Ugo e José Eymard, dos colegas os mais próximos, ambos em estado comatoso. Não resisti. Desabei.

Seis anos são decorridos desde que ficamos sem Ugo. Sabemos da morosidade de nossa Justiça, mas não temos dúvidas de que o Promotor usou de todos os meios ao seu alcance para postergar o julgamento de seu homicídio culposo (deveria ser doloso) por tanto tempo.

Agora, ao que parece, foram esgotados todos os artifícios protelatórios e o julgamento, por um colegiado de Desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, foi finalmente marcado para o dia 27 de novembro de 2024.

A sessão será presencial e Maria Arminda já decidiu que não comparecerá por não se ver em condições de ficar face a face com o algoz de seu marido.

Luciana, decidida e forte desde criança, irá.

Eu vou entrar em oração, pedindo a Deus que seu Espírito de Justiça baixe sobre os julgadores do assassino de Ugo. Mas, se não estiver nos Seus desígnios, que fique para o outro julgamento.

Este não será o último. Haverá um julgamento definitivo, em outros páramos, no qual ELE será o Juiz.

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