Tarcísio de Freitas sai mais forte com vitória em São Paulo e Bolsonaro confirma protagonismo como cabo eleitoral no país| Foto: EFE/ Sebastiao Moreira
No confronto com os partidos de esquerda, a direita brasileira termina as eleições de 2024 como a vencedora nas urnas e com a missão de entender o novo cenário de diferentes correntes dentro do espectro político.
Apesar de inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou força ao alavancar candidaturas encabeçadas pelo PL nas principais capitais do país e teve participação na reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), principalmente no segundo turno, após se manter distante da coligação com partidos de centro.
A ausência de um candidato da “direita raiz” com o apoio explícito de Bolsonaro em São Paulo também criou espaço para o outsider Pablo Marçal (PRTB), que confirmou a identificação de parte do eleitorado da direita conservadora com o movimento antissistema, o que pode voltar a se repetir nas eleições majoritárias dos próximos anos.
Quem também saiu vencedor na capital paulista, que reflete o cenário macro da direita brasileira, foi o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que assumiu o protagonismo da vitória sobre Guilherme Boulos (Psol) em São Paulo. Com tom conciliador, Tarcísio se tornou o principal padrinho de Nunes durante a campanha e saiu das eleições credenciado a concorrer à presidência da República, seja pela direita ou pela centro-direita.
Entre os governadores, Ronaldo Caiado (União Brasil) venceu em Goiás em Goiânia e Aparecida de Goiânia e também ganha tração para chegar às eleições de 2026 como um dos presidenciáveis do campo da direita moderada. O governador do estado de Goiás apadrinhou o novo prefeito eleito Sandro Mabel (União Brasil), que bateu nas urnas Fred Rodrigues (PL), indicado por Bolsonaro, em uma campanha acirrada.
De acordo com o sociólogo e cientista político Aryell Calmon, coordenador de Estados e Municípios da BMJ Consultores Associados, a aparição da direita em diferentes correntes mostra que não há um quadro fechado para enfrentar a candidatura à reeleição de Lula em 2026.
“Existe uma direita que está muito mais associada à imagem de Jair Bolsonaro, que portanto deve tê-lo como grande líder. Também existe uma outra direita caracterizada por Marçal nessa eleição, que está ligada às ideias. Além disso, a centro-direita pode lançar um nome mais de centro, como o governador Tarcísio de Freitas. Mas, a tendência da disputa majoritária nacional sempre é acabar em uma polarização”, analisa.
Maior cabo eleitoral da direita, Bolsonaro conta com anistia para eleições 2026
Segundo Calmon, além de ter a maior bancada na Câmara dos Deputados, o PL também deve usar os bons resultados do partido nas eleições deste ano para pressionar a aprovação do projeto de anistia de Jair Bolsonaro. O ex-presidente foi cassado por uma reunião com embaixadores em que criticou a segurança das urnas eletrônicas. “Se ele se tornar o nome mais viável [para 2026] é provável que as forças políticas se agrupem em torno dele novamente”, projeta o cientista político.
Na avaliação do colunista da Gazeta do Povo Rodrigo Constantino, Bolsonaro mostrou que tem mais força política nas ruas durante as campanhas municipais do que o presidente Lula (PT). “Bolsonaro conseguiu virar o jogo, mas não faz milagres, apesar de ser o maior cabo eleitoral do país e estar vivo politicamente”, declarou durante a cobertura ao vivo das eleições deste domingo (27) no programa Entrelinhas, da Gazeta do Povo.
O líder do PL na Câmara dos Deputados, Altineu Côrtes, minimizou os atritos dentro da direita brasileira durante a campanha e classificou a divisão como “natural” nas disputas eleitorais, ressaltando a necessidade de diálogo entre as diferentes forças políticas após os resultados nas urnas.
“O mais importante é a gente conseguir dialogar com o centro, com a centro-direita e buscar uma união. Deixar as diferenças e as divergências pontuais de lado para o projeto de construir a candidatura do ex-presidente Bolsonaro para retomar a presidência em 2026”, afirmou em entrevista à Gazeta do Povo.
Constantino pondera que o ex-presidente teria força política para indicar um candidato de direita para uma chapa do PL em São Paulo, ao invés de apoiar a reeleição do prefeito paulistano. “Junto com Tarcísio, que foi o grande cabo eleitoral de Ricardo Nunes, Bolsonaro apoiou um candidato do sistema, uma espécie de tucano em uma coligação com grandes partidos que representam o sistema. Se o Bolsonaro tivesse apostado as fichas pesadas em um cavalo de direita em São Paulo, acho que ele teria vencido”.
Deu na Gazeta do Povo