Governo veta compra de Israel para não ajudar na guerra, mas eleva em 75% importação da Rússia

Foto: Fábio Rodrigues

 

As críticas do ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho, sobre as “questões ideológicas” que travaram a compra por licitação de 36 blindados de artilharia de Israel, volta a dar luz a uma postura ambígua do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por um lado, a compra dos israelenses foi barrada sob a justificativa de não patrocinar a guerra no Oriente Médio, mas, por outro lado, o Brasil aumentou em 75% suas importações de origem russa. Essas receitas ajudam Moscou a financiar sua máquina de guerra contra a Ucrânia. A retaliação comercial do governo Lula a Israel foi tema de protestos e críticas duras da oposição no Senado nesta quarta-feira (9).

Levantamento feito pela Gazeta do Povo, a partir de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, mostram um salto nas importações brasileiras provenientes da Rússia. Em 2021, foram importados R$ 5,6 bilhões em produtos russos, já em 2023, um ano após a guerra, esse valor ultrapassou R$ 10 bilhões, um aumento de cerca de 75%.

A Rússia, assim como Israel, também está em guerra, mas por razões diferentes. Moscou decidiu invadir um país vizinho e anexar o território e a população dele. Israel vem se defendendo de ataques terroristas de larga escala promovidos pelo Hamas, pelo Hezbollah e pelos rebeldes Houthis, todos treinados e financiados pelo Irã.

“É uma postura de “dois pesos, duas medidas”, ainda mais porque a Rússia invadiu a Ucrânia. Violou um princípio [de integridade territorial e de liberdade política das nações] que o Itamaraty historicamente sempre supôs defender. [No caso de] Israel, há que se discutir se estaria cometendo crime de guerra ou não, mas Israel reagiu a um ataque que sofreu: um ataque terrorista do Hamas. Portanto, sim, são dois pesos, duas medidas [adotado pelo governo Lula]”, pontua professor de Relações Internacionais Gunther Rudzit, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Israel enfrenta uma guerra contra o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, há exatamente um ano. O conflito teve início depois que a organização extremista ordenou um ataque terrorista contra Israel e fez 1,2 mil vítimas. Na Europa, por outro lado, a guerra foi motivada pela Rússia. O país iniciou uma guerra em fevereiro de 2022, quando o ditador Vladimir Putin ordenou que suas tropas invadissem a Ucrânia.

O mandatário brasileiro, contudo, tem adotado tons diferentes para abordar os conflitos em curso no mundo. Enquanto evita fazer críticas a Putin e chegou a dar declarações interpretadas como apoio ao ditador, Lula tem sido crítico à contraofensiva israelense e aos prejuízos causados à população palestina que vive em Gaza.

Nesta terça-feira (8), Múcio afirmou que tendências ideológicas por parte do governo barraram negociações da Defesa com Israel. “Houve agora uma concorrência, uma licitação, e venceram os judeus, o povo de Israel. Mas, por questão da guerra, do Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas, por questões ideológicas, nós não podemos aprovar”, disse.

Apesar de não ter dado detalhes sobre a qual licitação estava se referindo, o mais recente caso está ligado à empresa Elbit Systems, companhia israelense que venceu a licitação para vender 36 obuseiros – espécie de artilharia blindada que faz disparos de longo alcance – ao Exército brasileiro. As negociações, contudo, estão paralisadas.

Informações da Gazeta do Povo

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