A morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, anunciada por Israel no sábado (28), foi considerada o maior golpe ao Irã até o momento na guerra indireta com o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, desde o início da ofensiva contra o Hamas, há quase um ano.
O chefe da milícia libanesa era um dos principais colaboradores regionais do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo de Teerã. Nas últimas décadas, o país persa investiu boa parte de seus esforços armando o braço mais poderoso do Eixo da Resistência (aliança informal anti-Israel liderada pelo Irã e composta por grupos terroristas como o Hezbollah e o Hamas), que também era uma ameaça constante no norte de Israel.
A inesperada morte de Nasrallah, no entanto, expõe a fragilidade da estratégia anti-Israel no Oriente Médio e cria um dilema para Teerã, visto que o regime precisa responder de alguma forma aos ataques em série contra seu aliado, correndo o risco de perder influência e liderança regional.
Ainda no sábado, Khamenei deu uma declaração comedida, minimizando os ataques de Tel Aviv no Líbano, na tentativa de esconder a gravidade do golpe contra o Hezbollah. Ele disse, na ocasião: “os criminosos sionistas devem saber que são insignificantes demais para causar qualquer dano significativo ao Hezbollah. O destino da região será determinado pelas forças de resistência”.
Nesta segunda-feira (30), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Nasser Kanani, foi um pouco além das demais autoridades ao afirmar que o país “cortará as mãos e os pés” de quem atacar seu território, em uma ameaça velada a Tel Aviv.
Apesar do discurso inflamado, no entanto, a realidade mostra um cenário de fragmentação e enfraquecimento cada vez maior dos aliados do Irã.
Ali Alfoneh, pesquisador sênior do Instituto dos Estados Árabes do Golfo (Arab Gulf States Institute, no inglês), sediado em Washington, afirmou ao jornal New York Times que o Eixo da Resistência, desde sua criação, foi considerado mais um recurso de propaganda do Irã para disseminar o terror no Oriente Médio do que uma força real.
“O chamado eixo de resistência, desde o seu início, foi mais ou menos uma ficção de propaganda criada para aumentar o prestígio da República Islâmica”, disse.
Alfoneh ressaltou que os membros dessa rede de influência anti-Israel conquistaram pequenas e raras vitórias militares, nos últimos anos, o que já indicava que, quando se deparasse com uma guerra como a atual, o resultado seria desastroso.
“Quando se trata de adversários mais sérios, ou de um ator estatal como Israel, o jogo é diferente”, pontuou o especialista.
À Gazeta do Povo, o professor de Relações Internacionais do Ibmec Brasília Ricardo Caichiolo explicou que, apesar da retórica dura de Teerã contra Israel e seus apoiadores, como os EUA, o país não teria força para entrar em um conflito direto com seu inimigo regional.
“O cenário mais provável no momento é que o Irã se concentre em auxiliar na reconstrução do Hezbollah e na manutenção de sua rede de apoiadores na região. Ainda que haja um sentimento de vingança e de estímulo a algum tipo de retaliação, o país entende que não deve se envolver em um conflito que não tem condições de vencer”, afirmou o analista.
Outro problema que reduz as chances de ampliação do conflito com Israel, segundo Caichiolo, é o fato de existir uma crescente frustração e insatisfação na sociedade iraniana com o excesso de investimento do regime em política externa.
Deu no Diário do Poder