“Não me surpreendi, mas eu só vou comentar a decisão depois da leitura da ata, semana que vem, como de hábito”, afirmou o ministro Fernando Haddad depois da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que elevou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual na reunião encerrada na quarta-feira. Foi a primeira vez em mais de dois anos que a autoridade monetária elevou os juros, após um ciclo de sete reduções seguidas e outras duas em que a Selic foi mantida estável. Haddad tem toda a razão em não estar surpreso; afinal, se os juros subiram agora – em uma decisão unânime de todos os diretores do BC, incluindo os indicados por Lula –, é porque a política econômica que ele supervisiona é a principal causa deste aumento.
O comunicado que o Copom divulgou na noite de quarta-feira, e que resume os temas que constarão da ata prevista para a próxima terça-feira, explica a decisão do colegiado: a economia está aquecida; a inflação acumulada em 12 meses continua muito mais próxima do limite máximo de tolerância que da meta de 3%; e as expectativas não apenas para 2024, mas também para 2025 e até 2026 estão “desancoradas”, ou seja, o mercado financeiro acredita que o IPCA não convergirá para a meta por um bom tempo. E tudo isso tem o dedo do governo Lula e das decisões que ele toma.
Haddad tem toda a razão em não estar surpreso com a alta da Selic, pois ela é consequência da política econômica que ele supervisiona.
Uma das razões (se não a principal) pelas quais a economia está crescendo a um ritmo maior que o esperado é, como lembramos neste espaço dias atrás, a decisão do governo de gastar desenfreadamente e estimular o consumo das famílias, uma estratégia que traz bons resultados no curto prazo, mas que no médio e longo prazo causa desastre. Além disso, a deterioração das expectativas de inflação tem relação direta com a completa irresponsabilidade fiscal de Lula, que pode até conseguir cumprir as metas (por si só bem frouxas) do arcabouço fiscal, mas apenas à base de inúmeras gambiarras orçamentárias, com um elenco cada vez maior de despesas que são excluídas da conta principal – o caso mais recente foi a mãozinha amiga do STF, que autorizou gastos fora do teto para o combate às queimadas.
Juros altos ajudam a frear a economia, mas se tornaram um mal necessário devido à total insanidade fiscal de Lula e Haddad, que não cortam gastos – muito pelo contrário, seguem ampliando as despesas – e tentam bancar a farra com cada vez mais impostos, que obviamente não são suficientes, levando o governo a uma espiral de endividamento crescente. O momento da decisão, que coincide com uma redução nos juros norte-americanos, pode trazer um alívio ao câmbio, já que a diferença entre os juros dos dois países aumenta, atraindo dólares e ajudando a baixar preços de produtos, serviços e insumos importados. Isso, claro, se Lula não provocar nenhuma corrida à moeda norte-americana com falas ou ações desastradas, como já ocorreu não muito tempo atrás.
No parágrafo final do comunicado, o Copom cita fatores que influenciarão “o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado” – e, ao falar de “ciclo”, dá a entender que novos aumentos na Selic podem ocorrer nas próximas reuniões; o mercado financeiro conta com isso, já que as previsões para a Selic no fim do ano são maiores que a taxa definida na quarta-feira. Lula e os petistas podem espernear e culpar Roberto Campos Neto, Haddad pode manter o ar blasé, mas no fundo todos eles sabem (ou ao menos deveriam saber) que a decisão do Copom não passa de uma reação ao que eles têm promovido desde que chegaram ao poder.
Deu na Gazeta do Povo