Medicamento para perda de peso reduz mortalidade por Covid-19

Foto: Marcello Casal Jr

 

Um novo medicamento utilizado contra a obesidade pode ter um efeito que os cientistas tratam como surpreendente: reduzir o risco de morte por Covid-19.

Em um artigo científico publicado em 30 de agosto no periódico Journal of the American College of Cardiology, um time de pesquisadores americanos apresentou os resultados de um estudo em larga escala sobre os efeitos da Wegovy, medicamento à base de semaglutida, usado para o tratamento da obesidade e controle de peso crônico. Segundo os cientistas, a semaglutida foi capaz de amenizar os efeitos da Covid nos pacientes analisados.

O medicamento costuma ser usado para a redução de peso e para o controle do diabetes tipo 2.

O estudo tem a autoria do professor de Harvard Benjamin M. Scirica e de outros 18 pesquisadores. Ao todo, a pesquisa contou com a participação de 17.604 pacientes com mais de 45 anos de idade e acima do peso. Os pacientes foram divididos em dois grupos iguais. Um recebeu placebo, enquanto o outro foi tratado com injeções semanais de semaglutida 2,4 mg.

Os pacientes foram acompanhados, em média, por 3,3 anos. Nesse período, 833 deles morreram.

Resultados apontam para eficácia

Os participantes que receberam o medicamento em vez do placebo tiveram um índice menor de mortes por causas cardiovasculares (a mortalidade foi de 2,5% contra 3%). Isso sugere que a semaglutida é, de fato, eficaz para reduzir os efeitos adversos do sobrepeso e da obesidade sobre o sistema cardiovascular.

Outro achado, esse mais surpreendente, foi o que a mortalidade por outras causas também foi menor. Mais especificamente, o semaglutida parece ser capaz de amenizar os efeitos da Covid-19.

O grupo de pacientes que receberam o medicamento teve menos casos de sequelas sérias por Covid (232 contra 277 dos que receberam placebo). E, ainda mais importante, o número de mortes também foi menor no grupo que foi mercado com semaglutida (43 contra 65 do grupo do placebo). Ambos os resultados são estatisticamente significativos, o que significa que eles não podem ser atribuídos meramente ao acaso. Os autores afirmam que essa descoberta foi um “evento inesperado”.

O estudo tem limitações. Os participantes não representavam a população geral. Além de ter mais de 45 anos de idade e um IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 27, todos eles apresentavam um histórico de doença cardiovascular.

Ainda assim, os resultados da pesquisa podem ajudar os cientistas a encontrar novas maneiras de reduzir a mortalidade por Covid entre os pacientes mais vulneráveis.

Professor afirma que medicamento não reduz chance de contágio

O Wegovy foi aprovado para venda no Brasil no ano passado. A Anvisa recomenda que ele seja utilizado por pacientes que mantêm uma dieta hipocalórica e que praticam exercícios físicos.

Eduardo Medeiros, Professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), afirma que o efeito encontrado no estudo pode ser explicado pela redução de fatores de risco: por causar a perda de peso e controlar o diabetes, o medicamento reduz a mortalidade entre os pacientes que contraíram a Covid.

“Diversos estudos já demonstraram que pacientes diabéticos, com sobrepeso ou obesidade apresentam maior risco de morte e complicações relacionadas à Covid-19. Provavelmente, a semaglutida atua de forma indireta para reduzir as mortes de pacientes que estão sendo tratados com semaglutida e tiveram Covid-19 durante o tratamento”, ele afirma.

Medeiros explica que, apesar dos bons resultados, não há sinais de que o medicamento ajude a reduzir o risco de infecção por Covid-19. Por isso, não é provável que ele passe a ser prescrito também com essa finalidade. “Não é uma medicação que atua diretamente contra a Covid-19 e não é plausível que tivesse essa nova aplicação”, diz Medeiros, que também é diretor científico da Sociedade Paulista de Infectologia.

“O que o estudo traz para a gente é que, se você tratar a obesidade e a pessoa tiver a Covid, a chance de ela morrer é menor”, concorda Gustavo Lenci Marques, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Medeiros lembra, entretanto, que o medicamento tem efeitos colaterais e que, portanto, os pacientes precisam ser acompanhados por médicos com experiência no tratamento de diabetes ou obesidade.

“Eu sempre oriento que o paciente que utilize um medicamento para o tratamento da obesidade o faça com acompanhamento médico”, reforça Marques.

Informações da Gazeta do Povo

 

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