A trajetória dos irmãos Joesley e Wesley Batista é um notável capítulo do capitalismo brasileiro. Começaram ajudando o pai nos negócios, com um pequeno frigorífico no interior de Goiás, para anos mais tarde erguerem o grupo multinacional J&F, maior produtor e exportador de proteína do mundo, que agora acelera sua incursão em outros setores. Contudo, essa história de sucesso tem sido marcada, desde o começo deste século, por uma persistente e controversa relação com a esfera política.
Independentemente da ideologia de parlamentares e governantes, os irmãos Batista ampliaram a sua influência e colheram benefícios ao longo de mais de mais de uma década, graças às investidas no jogo político. Desde a liderança no financiamento privado de campanhas eleitorais, quando isso era permitido, até a obtenção de generosos financiamentos subsidiados do BNDES, o grupo J&F projetou-se como campeão nacional com as bênçãos dos poderosos do Legislativo, Executivo e Judiciário.
Mesmo atravessando turbulências trazidas pela Operação Lava Jato, os irmãos goianos conseguiram driblar os prejuízos. Eles protagonizaram um episódio amparado pelo Ministério Público Federal (MPF) que quase custou o mandato do ex-presidente Michel Temer (MDB), mas que lhes deu liberdade para circular e movimentar patrimônio no país e exterior.
Em março de 2017, Wesley e Joesley gravaram uma conversa com Temer em que um deles falava de visitas e favores ao ex-deputado Eduardo Cunha (MDB), que na época estava preso em decorrência da operação Lava Jato. “Tem que manter isso aí, viu?”, disse o ex-presidente, gerando um escândalo, para o qual os Batista deram delações premiadas.
Após o curto período fora do palco do poder, Joesley e Wesley voltaram aos holofotes com o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Tal qual tiveram no mandato de Dilma Rousseff (PT), os irmãos Batista ganharam espaço no Conselhão da Presidência, em eventos públicos, agendas e viagens internacionais de ministros e negócios.
Neste ano, veio o primeiro grande favor concedido pelo governo: o financiamento por 15 anos, via conta de luz de todos os brasileiros, de uma distribuidora de eletricidade falida, a Amazonas Energia, com sede em Manaus.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que executivos da Âmbar Energia, empresa do Grupo J&F, tiveram ao menos 17 reuniões no Ministério de Minas e Energia (MME). As audiências ocorreram no período em que o governo preparava uma medida provisória (MP) que beneficiou diretamente termoelétricas recém-compradas pela Âmbar.
A MP foi editada em 14 de junho, socorrendo o caixa da Amazonas Energia, cobrindo pagamentos que a estatal devia para uma série de termoelétricas que são suas fornecedoras de eletricidade.
Quatro dias antes da MP, a Âmbar havia comprado 13 termoelétricas. Parte delas tinha débitos a receber da Amazonas Energia. Na aquisição, a empresa dos irmãos Batista assumiu o risco pela inadimplência.
Senadores e deputados da oposição protocolaram pedidos para ouvir o titular do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em audiência, cobrando explicações sobre as várias reuniões entre integrantes de sua pasta e da Âmbar.
Em nota à imprensa, a Âmbar disse que as especulações a respeito da Medida Provisória 1.232 e o negócio realizado pela empresa são descabidas.
“A Âmbar realizou um negócio privado, com uma empresa privada, após um acirrado processo competitivo que envolveu propostas vinculantes de diversos grupos econômicos, dada a atratividade dos ativos ofertados”, diz a nota. “São descabidas especulações a respeito da Medida Provisória 1.232 e o negócio realizado pela Âmbar. Não fazem sentido técnico e econômico, por diversos fatores. A Âmbar nunca tratou do tema com o Ministério de Minas e Energia. A MP visa o reequilíbrio econômico e financeiro da distribuidora de energia do estado do Amazonas. Cerca de 30% da energia gerada pelas usinas incluídas na transação é contratada pela Amazonas Energia”, diz a empresa.
Deu na Gazeta do Povo