França vai às urnas para eleições que podem resultar na vitória da direita nacionalista e renúncia de Macron

Os franceses vão às urnas neste domingo (28) nas eleições legislativas antecipadas pelo presidente Emmanuel Macron, após derrota nas eleições no Parlamento Europeu. A votação acontece em um cenário desfavorável para o atual líder, reeleito em 2022 para um mandato de cinco anos. Ele agora corre o risco de compartilhar o poder com um governo de tendência política diferente, a menos de um mês do início Jogos Olímpicos em Paris. A extrema-direta e a coalizão de esquerda aparecem com as maiores intenções de votos. Na quinta-feira (27) foi divulgada uma pesquisa da Ipsos que projeta uma vitória para o partido Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen e seus aliados, com 36% dos votos, seguido pela coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP, 29%) e o partido no poder (19,5%). O resultado após o segundo turno, em 7 de julho, é, no entanto, incerto devido ao próprio sistema eleitoral: os 577 deputados são eleitos em círculos eleitorais não nominais, com sistema majoritário em dois turnos. Diante desses dados e de uma perspectiva nebulosa, a França pode ter como próximos passos dessas eleições três cenários: bloqueio institucional, coabitação ou renúncia de Macron.

A chegada ao poder da direita nacionalista acrescentaria um novo país à União Europeia (UE) governado por esta tendência, como a Itália. O economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena diz que, com a vitória da direita ou da esquerda, Macron, que é de centro, perde a governabilidade francesa. E ficaria o questionamento sobre o que aconteceria com economia da França. Mesmo sem vencer as eleições, o líder francês pode se manter no cargo até o final do seu mandato. Contudo, vai precisar dividir o governo. “A governabilidade francesa vai ficar extremamente fragilizada e não sabemos ainda quais são os planos. Vamos entrar em um período de turbulência muito grande e que não há solução fácil. E é ruim porque vai desestabilizar a Europa”, diz o especialista, acrescentando que um abalo político na França e Alemanha afeta todo o continente. Lucena não acredita que Macron seja capaz de reverter os resultados e levar a melhor. Contudo, ele pontua que, se o líder francês se juntar com a esquerda, ele pode ter uma chance.
Apesar das pesquisas não serem favoráveis para Marcon, Natalia Fingermann, professora de relações internacionais no Ibmec-SP, acredita que esse atual cenário na França pode ser um cálculo político, mesmo que arriscado. “Se a oposição leva, ela vai ter que se mostrar frente ao eleitorado qual é a sua capacidade de ação para governar as questões internas da França”, observa a especialista. Daqui a um ano, o líder francês poderá dissolver o Parlamento mais uma vez e convocar novas eleições. “A oposição pode garantir maior número de assentos, mas daqui a um ano ele pode convocar eleições novamente e talvez garantir uma melhor situação no Parlamento, possibilitando que conquiste mais poder.” Christopher Mendonça, cientista politico e professor de relações internacionais do Ibmec Belo Horizonte, vê com outra perspectiva. “Se ele for derrotado, aí que a coisa fica mais complicada ainda. Ele teria muita dificuldade para continuar governando e não sei o que ele ia fazer”, destaca.

 

Em meio às incertezas que existem sobre as eleições, se as pesquisas confirmarem a disputa entre a direita nacionalista e a esquerda, Lucena acredita que, para economia, a melhor escolha seja a direta. “Uma França liberada pela extrema esquerda seria uma França com altas taxas, teria um grande aumento de impostos e desequilíbrio fiscal muito grande.” Ou seja, o país seria penalizado até mesmo pelas regras europeias e isso não resolveria os problemas. “A França pela extrema-esquerda perderia uma forte competitividade internacional. Haveria até mesmo uma fuga de cérebros e fuga de empresas”, projeta o especialista. “Do ponto de econômico, a direita não seria tão negativa. Teriam algumas políticas de incentivo à área de tecnologia.” Contudo, ele ressalta que “é tiro ainda muito grande e escuro para a gente acompanhar”.

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