A pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, embora tenha apontado resiliência do antipetismo e do antibolsonarismo no cenário eleitoral pré-2022, também registrou barreiras para que postulantes à chamada terceira via surfem nas rejeições elevadas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o Datafolha, 59% dos eleitores dizem não votar de jeito nenhum em Bolsonaro, enquanto 38% rechaçam Lula. Mesmo assim, Lula é líder isolado em intenções de voto, variando entre 42% e 44%, a depender do cenário testado. Bolsonaro varia entre 24% e 26%. Ciro Gomes (PDT), o pré-candidato que mais se aproxima do atual presidente em números absolutos, chega até 12%. A margem de erro é de dois pontos.
Ciro, que não passava de 9% na pesquisa de julho, retomou agora o mesmo patamar de votos que obteve na eleição de 2018. Na ocasião, ele ficou de fora do segundo turno disputado entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), que também concentravam as maiores rejeições à época, ambos acima de 40%, segundo o Datafolha.
Em setembro, a rejeição a Bolsonaro entre aqueles com renda superior a dez salários mínimos caiu 13 pontos e chegou a 45%, abaixo do índice geral, enquanto o número de avaliações positivas (ótimo ou bom) subiu de 32% para 36%. Tanto nesta faixa quanto entre os que ganham acima de cinco salários mínimos, Bolsonaro tem 42% das intenções de voto, quase o dobro de Lula.
O apoio ao presidente entre eleitores de maior remuneração também é um obstáculo a nomes da terceira via, que tentam cativar esta parcela para elevar seus tetos de crescimento e se contrapor a Lula, forte entre os mais pobres.
No caso do Ciro, o potencial de crescimento é travado também pela força de Lula em segmentos em que o pedetista se destaca. Entre os mais jovens, por exemplo, Ciro chega a 17% em um dos cenários, mas Lula impõe uma de suas maiores vantagens para Bolsonaro, aparecendo quase 30 pontos à frente do atual presidente (49% a 20%) e do pedetista.
Com esse panorama, acenos mútuos entre Ciro e outros nomes da terceira via em busca de alianças para 2022 se intensificaram na semana passada. Além de ter ouvido de Luiz Henrique Mandetta (DEM), durante live, que “muita gente torce” por uma aliança entre eles, Ciro articulou reuniões recentes com o apresentador José Luiz Datena, presidenciável do PSL, e também com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que deve se filiar ao PSD.
O tucano João Doria — com o mesmo patamar de rejeição de Lula (37%) nacionalmente, chegando a 44% em São Paulo — tem combinado apostas em pacotes de obras do governo do estado com propostas liberais, como a privatização da Petrobras, além de percorrer diferentes estados e buscar interlocução até com lideranças de redutos petistas, como Pernambuco.
Também do PSDB, Eduardo Leite, que busca nacionalizar sua imagem já para a disputa das prévias do partido, acenou com uma aliança com o senador Tasso Jereissati (CE), aliado local de Ciro. O objetivo dos governadores paulista e gaúcho é ultrapassar Bolsonaro com votos do centro e da direita e ganhar espaço entre eleitores mais pobres e no Nordeste, região onde ambos patinam entre 1% e 2%.
O Globo